Já escrevi, apaguei e reescrevi este princípio de texto umas 100 vezes e continuo sem saber por onde começar. Nasci pouco tempo antes da última final europeia do nosso clube. Em Maio de 1990, nem as rezas de Eusébio sob o jazigo de Béla Guttmann surtiram efeito, e o Milan derrotou o Benfica por 1-0 em Viena. De lá para cá, as prestações europeias do Benfica em nada se ajustaram à categoria e à História do clube. Eliminados pelo Bastia. Os famosos 7 de Vigo. Levar 3 do Anderlecht. Perder na Luz com o Metalist. E até mesmo dois anos consecutivos sem conseguir o apuramento para as provas europeias. Desde que me lembro, vi o Porto, por mais de uma vez, o Sporting e até o Braga (às nossas custas) chegarem a uma final europeia. Até o Boavista esteve a dez míseros minutos de conseguir uma final europeia.
Mas ontem, na Luz, vi mais Benfica naqueles jogadores e naqueles adeptos que nos últimos 5, 10, 15 anos. Ontem, na Luz, houve Benfica, fez-se Benfica e o Benfica realizou-se. Os jogadores foram Benfica, os adeptos também. Em muitos anos da "nova" Luz, nunca tinha visto e vivido um ambiente como o desta 5ª feira. O Benfica x Manchester United de 2005/2006 era, para mim, o auge em termos de apoio fervoroso que já tinha presenciado. Caro leitor, se ontem não foi ao Estádio da Luz, não sabe o que perdeu. Perdeu a aparição daquele Benfica, em jogadores e adeptos, que os mais novos só vêem através das gravações em VHS ou que só ouvem pelos relatos dos mais velhos.
A apenas três semanas do fim da temporada, estamos paradoxalmente tão perto e tão longe de conseguir aquilo que queremos, que parece ainda irreal o que o Benfica já alcançou, sem ganhar nada, esta época. Estar com uma boa vantagem no campeonato, ter um adversário acessível na final da Taça e regressar a uma final europeia 23 anos depois é todo um corolário de condições que julgava serem absolutamente inatingíveis em Setembro último. Mais que ganhar um campeonato pela primeira vez em três anos, mais que arrecadar uma dobradinha pela primeira vez desde 1986, o Benfica pode fazer o que jamais foi feito no nosso clube: Campeonato + Taça + Prova Europeia. Mérito de quem? Deixo isso para outro post, onde Jesus, obviamente, mais até do que em 2010, tem o papel principal.
Mas ainda não ganhámos nada. E é isso que importa recordar no meio de toda esta euforia que leva gente ao Marquês de Pombal para festejar título nenhum. Em primeiro lugar, é preciso ganhar. O Benfica não pode dar abébias no campeonato e na Taça, e tem de fazer o melhor que sabe numa final europeia mesmo partindo na condição de não-favorito. É preciso ganhar. O "quase" não basta. O "quase" não serve. O "quase" não é um título. E não basta ganhar uma vez para se iniciar um novo ciclo. É preciso ganhar muitas vezes. É preciso iniciar o hábito de ganhar consecutivamente. E é isso que acho que esta temporada, em especial com a presença na final europeia, nos pode dar: uma viragem completa na mentalidade de jogadores, equipa técnica, corpo directivo e, também, pasmem-se, adeptos. Uma final europeia é especial para todos. Engrandece o clube aos olhos da Europa mas também o torna maior aos olhos de todos aqueles que o amam... e que o odeiam. Cabe agora a quem de direito saber capitalizar essa grandeza e esse crescimento que uma época repleta de títulos pode e deve dar. É aqui que entra Vieira. Cumprir o "1" do seu "3-1-50" prometido aquando das eleições (três campeonatos nacionais, uma final europeia e cinquenta títulos nas modalidades) à primeira tentativa é obra. O "3" vai igualmente bem encaminhado. E cumprindo aquilo que prometeu, Vieira terá, finalmente, um mandato à Benfica, continuando a ser, ou deixando de ser, o presidente que devolveu ao Benfica o hábito de ganhar muito e consecutivamente. E esse seria um feito digno de o colocar numa galeria onde figuram apenas os mais importantes presidentes da História do nosso Benfica.
6 comentários:
Ontem na Catedral ao acabar o jogo em euforia de repente lembrei-me do dia 19 de Abril de 90 o dia (noite neste caso) que mais emoções tive na antiga Catedral da Luz muito mais que 2 anos antes. O golo do Vata foi para mim então um tenager inconsciente o maior momento emocional que tive com Benfiquista.
É verdade vivi 3 finais do Glorioso sendo 2 da Champions. Foram momentos incriveis que na altura por ser novo não realcei, nem pensei muito. As derrotas doeram e se doeram, então curiosamente com o Milan (o Barça da altura) foi pior pois tendo o Ricardo, Thern, Paneira, Pacheco, Magnusson, Valdo e Vata achava que ganhar ao Baresi, Maldini, Donadoni, Ancelotti, Rijkaard, Gulitt, Van Basten, era de meninos.
Isto para dizer que ontem o VERDADEIRO BENFICA voltou, o Benfica que cresci, que vivi, grande, o maior da Europa, do Mundo. É este Benfica que me fazia sonhar, que me fazia faltar ás aulas para ouvir o relato da vitoria em Roma, que me fazia ir de Queluz a Benfica pendorado no Comboio, que me fazia entrar completamente no ar entalado no 3º anel nesse dia de Abril de 90 3 horas antes do jogo, que me fazia ir á missa no dia antes pedir para ganhar-mos, que me fazia fazer jogos na escola onde centrava a bola á Valdo e um colega metia o braço á Vata, esse Benfica que para mim tinha desaparecido voltou não ontem mas há 4 anos, desde que JJ veio aqui parar. JJ foi, é e será o melhor acto de gestão de Vieira o melhor treinador do clube em 30 anos.
O Porto nao vai dar bilhetes ao Benfica para o jogo de 11 de Maio preferindo pagar a multa correspondente ao infringimento da lei.
Até os nossos rivais já se renderam...Leiam o artigo que está a fazer furor nas redes sociais, sobre a "sensacional época" do Sport Lisboa e Benfica! http://palavrasaoposte.wordpress.com/2013/05/03/as-tres-semanas-mais-longas-da-historia-do-benfica/
Caro JNF. Costumo discordar dos teus posts. Não no conteúdo mas, fundamentalmente, na forma. Agora que confessas a tua idade fica tudo mais esclarecido! Claro está que não pretendo com isto desvalorizar os mais novos e fomentar a cultura da lógica "os putos não sabem nada!", mas sim entender o fluido do teu discurso. Eu posso resumir a história-negra-do-benfica-em-um-parágrafo como:
PC foi o melhor dirigente desportivo de sempre (com métodos maquiavélicos) e quebrar a hegemonia não era com 2, 5 ou 10 anos!
Foi tudo uma questão de tempo e temos o glorioso lá em cima! Agora temos que enterrar o FCP e criar uma nova ordem no Futebol Luso. Desta vez sem a carolice dos 1960's mas sim com uma organização feroz, agressiva e devastadora para com o inimigo.
o 3-1-50 tem q passar já a 3-2-50 e por aí em diante
O problema não se trata de quebrar a hegemonia. Todos sabemos que para o Benfica ser campeão, em Portugal, com o Sistema instalado (porque ainda está instalado, desenganem-se os que pensam que não está) não basta ser melhor: é preciso ser MUITO melhor. Eu concedo que o Benfica não seja campeão mesmo sendo melhor que o Porto, porque há coisas contra as quais não conseguimos lutar. O que eu não admito é que se cometam erros graves e grosseiros de gestão desportiva passados 5 e 10 anos de presidência (erros esses que houve inclusivamente este ano). Isso é que é motivo para criticar e é isso que tenho feito.
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