quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Jorge de Brito: um HOMEM BOM.


Foi, até ontem de madrugada, o sócio n.º 88 dessa maravilhosa comunidade de homens bons, que dá pelo nome de Sport Lisboa e Benfica. Chamava-se Jorge de Brito, e foi ex-presidente do Glorioso entre 1992 e 1994. Tinha um amor desmesurado pelo Clube, que serviu sem quaisquer fins ou interesses egoísticos. Possuidor de uma das maiores colecções de arte privadas do país, viu-se obrigado a vender uma Vieira da Silva para segurar um mercenário: JVP. Lembro-me bem desses tempos. Então, com 15/16 anos, tinha já um desmesurado amor pelo meu Benfica. Amor esse que me fora incutido, bem cedo, pelo meu Pai, também ele um louco pelo Glorioso, nas míticas 4ªs feiras europeias à noite e domingos à tarde, no velhinho Estádio da Luz. Em jogos para a Taça dos Clubes Campeões da Europa contra o Liverpool de Souness e Ian Rush, o PSV, o Milan, o Barça e jogos para o Campeonato Português contra os rivais de sempre SCP e o Porto. Sei bem o que me custou o «verão quente» de 93. O Sporting, repetindo o que havia já feito no início do século quando "roubou" mais de metade dos operários e trabalhadores que honravam a camisola da águia, com promessas de salários mais elevados, desferiu um novo ataque sem dó e piedade ao SLB. Como só os vampiros sabem fazer, aproveitando-se do sangue que saía de uma águia cansada e frágil de massas e dinheiros, mas digna e cheia de alma, o então Presidente do Clube dos Betos, o inacreditável bimbo Sousa Cintra, apresentou, ao pior estilo de uma produção de 3ª linha de hollywood, num descapotável branco, P. Sousa, o nosso «maestro», e um rapaz chamado Pacheco, um puto algarvio que, sem ser uma estrela, fizera um conjunto de bons jogos à extremo, na Luz. Os betos, claro, regojizaram. Traumatizados por uma história de constantes desilusões no campo da rivalidade com o Benfica, cansados nomeadamente das inúmeras faenas ministradas pelas papoilas saltitantes em pleno Campo Grande, em Alvalade, em Carnide e na Luz, dos tiros de Eusébio, Coluna e Simões, das cabeçadas certeiras de Humberto Coelho e Germano, viram no acto inqualificável de Cintra a oportunidade de uma pequena vingançazita. Não contentes com o roubo de P. Sousa e Pacheco, les pauvres quiseram mais. Quiseram o Rui Costa e o JVP. Claro que o primeiro, como Principe que é, e sempre será, apesar de ter nascido e sido criado na Damaia, lhes disse logo que não. Nunca iria jogar contra o seu Benfica. Coisas de AMOR, explicou-lhes. O segundo, coitadinho, disse que sim. Jogaria no SCP por dinheiro. Mais dinheiro. Muito dinheiro. Foi, então, que Jorge de Brito, dando provas do seu enorme BENFIQUISMO, se meteu num avião e, reza a lenda que um dia contarei ao meu filho, resgatou JVP das garras de um leão sedento de vingança, tendo conseguido, a troco de um dos seus valiosos quadros de arte, que o miúdo voltasse a casa. Onde, meses mais tarde, numa célebre noite de Maio de 94 atirou, sem qualquer misericórdia, 3 mísseis teleguiados para a baliza de um qualquer jugoslavo chamado Lemajic. Tal como há 80 anos atrás, o feitiço virara-se contra o feiticeiro. Os bons, feridos na sua honra, ganharam aos maus. Os pobres venceram os ricos. A utopia vencera, uma vez mais, a realidade.

Por me ter permitido viver essa noite de sonho, curvo-me, hoje, quando faltam poucos minutos para a meia-noite, em nome da memória de Jorge de Brito. Um homem bom que amou como poucos o Benfica. Um Senhor à antiga.

Descansa em paz, Presidente.
Tirado daqui .
Uma prosa de outro grande benfiquista, que conheço pessoalmente e tenho a honra de dizer que sou amigo. Bem haja, Jack.

3 comentários:

Anónimo disse...

Grande homenagem a um grande homem! Um texto que faz arrepiar qualquer benfiquista. Descanse em paz grande PRESIDENTE!!!!

Anónimo disse...

Grande homenagem!

Como referiu o Toni, Jorge de Brito foi um Benfiquista que personificava a frase "É ter na alma a chama imensa".

Obrigado Presidente!
Descanse em paz!

Pedro Neto disse...

Grande texto, parabéns ao autor!