sexta-feira, 15 de setembro de 2006

"Heiiii Tooouro"


A “festa brava”, como vulgarmente intitulamos essa união desigual entre cavaleiro/forcados e o touro, apesar de suscitar algumas (muitas?) questões ao nível dos direitos dos animais, consegue fazer-me vibrar com os ritos e ritmos que comporta.

As lides imponentes, as pegas heróicas, o apogeu da volta à arena… tudo isto faz-me recordar o facto de vivermos num mundo de grandes e pequeninos, de dominadores e subjugados, de vitoriosos e vencidos.

Heiii Tooouro!!!”. Eis um título interessante para um tópico sobre… futebol, pensei eu durante a última corrida transmitida pelo canal público de televisão. É interessante observar a similitude entre estes dois acontecimentos públicos. “Tenho de escrever algo sobre isto”.

As dificuldades com que me deparei, logo de seguida, foram: quem seriam os “cavaleiros”, os “forcados” e os “toureiros” desta minha análise? Quem representaria o papel da “aficion”, da “charanga” e da “florista dos mil beijos”? Mas mais importante que tudo isto… quem seria o “touro”?

Encontrei, então, a chave para o problema:

Cavaleiro – Fernando Santos;
Cavalo – Equipa principal de futebol (vá… esqueçam o animal e entrem no espírito);
Aficion – Aqueles que eu gosto de pensar que são os melhores adeptos do mundo (nós);
Charanga – Claques organizadas;
Grupo de Forcados – Corpos dirigentes do SLB, com LFV na pega ao touro;
Touro(s) – Adversários, árbitros (ou não fossem os “bois pretos”), Majores, Pintos da Costa e todos os apitos que não sejam transparentes.

Alguém poderá perguntar: “E o Veiga?”. Como não quero deixar o dito senhor esquecido, vou atribuir-lhe o papel de “Toureiro a pé”. Aquele que, atrás de uma capa vermelha, vai atiçando a fúria do touro o mais que pode.

Na primeira parte do nosso espectáculo, o cavaleiro orienta o seu companheiro (cavalo) no sentido de uma boa lide. Essa seria a intenção! Firmeza, autoridade e confiança exigem-se, caso contrário, a cornada é certa! Quanto melhor for a exibição, maior quantidade de “olés” ouvir-se-á! Sempre apetecível aos ouvidos quando nos impomos. O contrário… nem por isso! Uma equipa só vai para onde o treinador e os dirigentes querem que ela vá. Pode não dar sempre certo, mas, por norma, o cavalo é o reflexo do cavaleiro.

O que mais se ouve, nos meios tauromáquicos, é que o touro, o cavalo e o cavaleiro são amigos, mas se espetar ferros e levar cornadas é ser amigo, o mais lógico é que, do ponto de vista do “touro”, este se aproxime de quem melhor cuide dele (se é que me faço entender). Daí escolher, frequentemente, um terreno onde se sente mais protegido.

Uma das nossas funções é fazer com que o “bicho” não se refugie numa qualquer “tábua”. A nossa grande demanda é fazê-lo regressar ao centro da virtude: o meio! Aí o espectáculo ganha outra dimensão: Isenção e fair-play!

Mas como a festa taurina não vive só de cavalos e cavaleiros (equipas e treinadores), lá terão de aparecer aqueles que também gostam de aquecer o ambiente: os forcados (dirigentes).

Momento de emoção indiscutível é o encontro, cara-a-cara, do “pegador” com o “touro”. Neste ponto em especial, têm sido muitos os “Heiiii Tooouro” ouvidos. Queremos pegá-lo de frente, sem receios. Sabemos que temos ajudas logo atrás, sabemos que a aficion espera pelo momento da chamada “reunião”. Venha o “touro” que vier, estamos e estaremos cá para recebê-lo de frente!

Quando não é o animal a investir, somos nós a espicaçá-lo para que o momento da verdade chegue. Não temos medo, mas, de quando em vez, levamos umas incomodativas cornadas. Pelas notícias recentes, o mais certo é que o “touro”, por ser tão forte e escorregadio, fuja mesmo e não consigamos realizar a tão ambicionada pega. É pena! “Festa taurina” que se preze não dispensa a presença do forcado na volta à arena.

Lá pelo meio, a descontento de alguns (muitos?), o Toureiro a pé vai fazendo a sua perninha num desempenho cada vez mais criticado. Convenhamos… a charanga já não toca em apoio como outrora.

Digam lá se estas lides nada têm a ver com o futebol…

E viva a festa brava!


PS: “… Mas, e então? Onde pára a ‘florista dos mil beijos’ nesta história?”, perguntam-me vocês! Pois… provavelmente estará num qualquer Elefante Branco a “conviver” com alguma espécie de “boi preto”.


Saudações Benfiquistas.

2 comentários:

Sir disse...

Gostei das analogias, e muitas verdades aí foram ditas. Não sei se foi de propósito a referência ao Petit, quando quis pegar o touro de frente, pelos cornos, mas pareceu-me evidente.

Por norma, não sou grande aficionado da tauromaquia, até pelas questões éticas que se levantam (e isso fica para outro dia..), mas percebo o que queres dizer quando te referes às semelhanças entre futebol e tourada. Cornudos, há de certeza.

Enfim, mais uma prosa fantástica. Como sempre, os meus parabéns.

PS : Pelo que depreendo, a presença do toureiro a pé é dispensável. [..]

Anónimo disse...

Belo Ferro