Faltam 24 horas para o clássico. Faltam 24 horas para o Benfica derrotar o Porto na Luz e para, ainda assim, continuar longe, muito longe, de um título de campeão que tanto merece. Não há volta a dar. Não se trata de excesso de confiança, não se trata de soberba, não se trata de menosprezo ao adversário. Trata-se de lógica num jogo e num desporto sem lógica. Mas apesar de tudo, é essa mesma lógica que me diz que o SL Benfica pode e vai mesmo derrotar, apenas pela terceira vez nas últimas doze tentativas, o FC Porto na Luz, para o campeonato.
Chegados a Janeiro, o que este grupo de jogadores atingiu é, para mim, uma surpresa e um motivo de orgulho, ainda para mais nas condições em que o fizeram. Nem sempre com brilho, nem sempre da forma mais segura, correcta ou racional, mas chegaram onde eu não pensava ser possível, mesmo com um plantel que me parece mais fraco e mais desequilibrado que o do ano passado. A verdade é que esta equipa começou a época com poucos a acreditarem nela. Iniciou a temporada de uma forma atribulada, com muito barulho na pré-época pelos tristes acontecimentos de Dusseldorf. Teve de recorrer a adaptações pela escassez de soluções que o plantel apresentava, nomeadamente no que à lateral esquerda dizia respeito, mas também no centro do terreno, com Matic e Enzo, hoje titulares indiscutíveis, a ocuparem posições que não são, por natureza, suas. A equipa viu-se privada, mesmo no fechar da janela de transferências, das duas âncoras defensivas, Javi e Witsel, jogadores de qualidade inquestionável, que seriam titulares em quase todas as equipas do mundo, não tendo tempo (nem engenho) para substituí-los convenientemente. O capitão Luisão foi castigado a meio da época por dois meses face ao que havia feito quase dois meses antes. O plantel foi acometido por lesões, desde a do mago Aimar até ao crónico lesionado Martins, que tinha feito uma pré-época extremamente promissora. Foi preciso recorrer a jovens inexperientes dos juniores/equipa B para colmatar lacunas no plantel (André Almeida, André Gomes) memo em jogos importantíssimos (Celtic Park, Camp Nou, Alvalade). Vimo-nos a braços com o subrendimento de jogadores que fizeram uma campanha positiva em 2011/2012, casos flagrantes de Nolito, Bruno César e Rodrigo. Tivemos jogadores que não se encontravam em forma ou que ainda não se tinham adaptado e que não constituiram opção durante boa parte da temporada (Gaitán e Ola John). Tudo isto aconteceu desde Agosto até hoje. Era a receita para a catástrofe. E o registo do Benfica nas provas nacionais e internacionais não mente: 25 jogos, 18 vitórias, 5 empates e 2 derrotas (com o Barça e fora com o Spartak, diga-se). 1º lugar na Liga, nos quartos da Taça de Portugal (já sem Porto e Sporting) e nas meias da Taça da Liga. Estamos vivos e em todas as frentes. É muito positivo para tantas peripécias.
Mérito portanto para Jorge Jesus. De Agosto até hoje, superou todas as dificuldades, lançou jogadores novos, colmatou da forma possível as saídas dos craques com o que tinha à mão, adaptou com sucesso Matic e Enzo, soube gerir as lesões e os castigos, aprendeu a integrar jogadores no tempo devido (vide Gaitán e Ola John) e ganhou jogos, muitos jogos. (Re)Convenceu-me? Não. Ainda assim, apesar dos resultados positivos, há muita coisa que deve ser melhorada no futebol do Benfica, nomeadamente no que diz respeito à transição defensiva e bolas paradas. Sei que um acesso de loucura se costuma apoderar do nosso treinador quando menos se espera, e que tal insanidade nos faz perder campeonatos, mas não é por isso que deixo de reconhecer o mérito que teve nos últimos meses. Se Jesus fizer as coisas bem, não sabemos o que pode acontecer. Só é certo que se fizer as coisas mal, irá haver borrasca.
E olhando para o Porto, o que vemos? Em termos individuais, uma equipa muito mais fraca que a do ano passado (sem Hulk nem Álvaro Pereira), mas ainda assim muito "equipa". Apesar da anquilose vertebral, Lucho é a pedra base daquele grupo. E James o artista. Mas este Porto não sofreu as privações nem as provações a que o Benfica esteve sujeito. Foi um Porto que apenas e só perdeu Hulk "inesperadamente", tal como nós perdemos Javi e Witsel. Nada mais aconteceu. O caminho do Porto tem sido um passeio não tanto por fruto do trabalho e qualidade mas mais pelo fosso entre grandes e pequenos e da inexistência de dificuldades. Já imaginaram o que seria deste Porto se tivesse as lesões, os castigos, as quebras de forma, a necessidade de recorrer à equipa B e todas as restantes dificuldades que o Benfica teve desde Agosto? No entanto, para meu contentamento, os planetas parecem alinhar-se: Rolando, por muito mau que seja (e é), continua proscrito; Maicon vai falhar o clássico, o que significa que Mangala ou Abdoulaye, um destes cepos, ou mesmo os dois, será titular (força Salvio); e James, o grande artista, o homem que no ano passado entrou e decepou a defesa encarnada (que saudades de Capdev... Emerson, digo) também se encontra de fora. A juntar a tudo isto, o facto de o Porto ter no banco um treinador que é tacticamente inferior a um koala e que na conferência de imprensa de ontem acendeu o rastilho que deveria e deverá motivar ainda mais os nossos jogadores, deixando transparecer a ideia de que este jogo está ganho para os lados do Dragão. Queriam um Porto em pior situação? E já que este é o parágrafo do Porto, aproveito para deixar uma nota sobre o árbitro: João Ferreira. Para mim, o melhor, mais competente e mais sério dos árbitros em Portugal. Não foi membro dos super-dragões, não é filho do pai, não é sócio do Benfica (ai Proença...) e se a bola passa a linha de golo valida o lance. O registo dos clássicos apitados por este senhor é equilibrado (e curiosamente, na única vez que o Benfica venceu, perdoou dois penalties ao Porto). Queriam melhor que este? Não havia.
Aos guerreiros que amanhã vão entrar no estádio mas não no campo, peço apenas que entrem com o mesmo espírito dos heróis que envergaram a camisola do Benfica e que a tornaram num símbolo reconhecido em Portugal e além-fronteiras. É necessário um ambiente infernal, de apoio durante 90 minutos Entrem à Benfica. Sem medo. Para cima deles. Vemo-nos amanhã, no Estádio da Luz.
9 comentários:
Enorme, Jota!
Vamos para cima deles. Desta vez até eu estou moderadamente confiante. Abraço!
As derrotas foram com Spartak e Barcelona.
Do resto subscrevo totalmente o texto.
Eu cá não estou tão confiante ... :(
eu estou ;)
https://www.facebook.com/#!/groups/130613446951225/?fref=ts
passem lá e partilhem, o autor está a precisar de companheiros que se queiram juntar à luta contra a corrupção.
Façam-no pelo Benfica e ajudem a acabar com a batota no futebol portugues.
Digo-te JNF... nunca li um texto teu tão incisivo, claro, e, como é natural, tão de acordo com as minhas opiniões! Parece que entraste no meu cérebro e retiraste todas as ideias! Se eu fizesse um "brain dump" antes de ler o teu texto iria resultar no...teu texto! A terminar o futebol é uma caixinha de surpresas mas eu ainda acrescentava à "nossa" sobranceria o fato do FCP só ter disputado 4 jogos de risco esta temporada...SCP e PSG ...perdeu 2 ganhou 2!
Porque tem um plantel e equipa melhores e porque os jogadores estão plenamente conscientes que VÃO GANHAR - SÓ POR ISTO!
Já tínhamos saudades tuas, companheiro.
Muito bom post.
Hoje vemo-nos todos no Estádio da Luz.
Este é o JJ que eu aplaudi aquando da sua vinda para o Benfica... se é um homem já na plenitude do conhecimento... que vença Hoje... que sejamos campeões!... que vençamos a Taça de Portugal a da Liga e a Liga Europa!
O plantel está suficientemente equilibrado!
Este é o nosso tempo o ontem que se funde com o hoje e nos transforma no amanhã de sessenta...
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