quinta-feira, 25 de março de 2010

De trabalho se fez a vida deste Homem

Jesus tem um lugar especial no coração dos benfiquistas. A frase pode parecer de um enorme lamechismo, mas, pelo menos para mim, assim é. Mais do que lhe reconhecer os méritos, admiro-o e admiro o modo como conseguiu alcançar os seus sucessos, admiro o modo de como subiu na vida.

Filho de pai sportinguista, ex-jogador do clube de Alvalade, Jorge Jesus nasceu para o mundo do futebol no início da década de 70. Li há uns tempos na Sábado, que o nosso actual treinador, no início dessa década, repartia a sua vida entre o futebol, os estudos e ainda o trabalho, com o seu pai, Virgolino. Claro que levando todas estas actividades bastante a sério, o esgotamento de Jesus seria natural, de modo que o seu pai lhe deu a escolher entre as três actividades. Felizmente decidiu-se pelo desporto-rei.

Mas quem pense que foi chegar, ver e vencer, que se desengane. Começou no Estrela da Amadora em 1970 e passou pela formação do Sporting, sendo que actuou em doze clubes no escalão sénior, entre os quais Belenenses, Farense, Riopele, Leiria, Setúbal e Almancilense, onde acabou a sua carreira, em 1989. Depois de pendurar as botas nesse ano, abraçou de imediato o desafio de treinador, e logo no rival Amora, que subiu de divisão logo nesse ano. Quatro anos nesse clube, mais cinco no Felgueiras, com passagens por Estrela da Amadora, Setúbal, Guimarães, Moreirense, Leiria, Belenenses, Braga e, por fim, passados 40 anos de carreira, chega a um grande e aí tem sucesso. No Benfica. 40 anos de trabalho duro e finalmente consegue chegar ao Benfica. Quantos dos que lêem este post já trabalharam 40 anos, muitas vezes em situações difíceis?

Profissionalismo é a palavra de ordem para Jorge Jesus. É exigente, prefere um raspanete que dar umas palmadinhas nas costas. Dizem que desde que é treinador, por apenas duas vezes tirou férias. Obcecado por trabalho, vive para o futebol, respira este desporto. Aproveita todos os momentos que tem para aprender mais um pouco sobre futebol. Estagiou em Barcelona com o mítico Johan Cruyff. Homem de convicções firmes, sabe perfeitamente o seu valor. Quem se lembra daquela frase proferida em que dizia que com o plantel de Quique tinha sido campeão? Arrogante? Não, acho-o mais Mourinhiano, se assim pudermos dizer. Que benfiquista é que não admira este homem? Por isso, meu caro Jorge Jesus, a emoção que sentiste no final da Taça da Liga, além de se compreender, até pelo estado debilitado de saúde em que se encontra o teu pai, é de louvar, é de enaltecer. Obrigado.

5 comentários:

sloml disse...

Subscrevo inteiramente. E não é de agora que o admiro. É mesmo desde os tempos do Felgueiras. Só tenho aí um reparo no teu texto. Dizes que acabou a carreira no Almancilense e depois iniciou-se como treinador no rival Amora? É que o Almancilense e o Amora são tudo menos rivais... vê lá isso.

Falta-te uma das muitas pérolas dele, no caso no Belenenses. Quando, pelo Belém, defrontou o Real Madrid treinado por Schuster e só perdeu 1-0 com um frango de Marco já perto do final, na conferência de imprensa disse: "Eu, com este plantel do Real Madrid, era mudar aos 3 e acabar aos 5!". Isto na cara do próprio Schuster. Ah grande Jesus!

JNF disse...

sloml,

encontrei no MaisFutebol, há mais ou menos uma semana, uma entrevista ao filho de Mário Wilson em que ele falava de uma "rivalidade", mas mais no sentido da luta pela subida de divisão. É como dizer que o Braga é rival do Benfica, este ano.

Quanto a esse episódio do Real, lembro-me bem do Schuster dizer que o Belenenses só foi lá defender e JJ respondeu que com aquele plantel do RM, aquilo era muito "poucachinho". Estão no Youtube.

Éter disse...

Até um ateu como eu se vê obrigado a dizer um Ámen. Grande Jesus.

Jotas disse...

Caro JNF é merecido este post, JJ é de facto um profissional exemplar.

sloml disse...

Não sei se essa frase que eu parafraseei dele apareceu em público, mas tenho a confirmação de jornalistas que lá estiveram na conferência de imprensa que dizem que ele disse mesmo assim. Essa é uma das coisas que gosto nele, assim como no Manuel Fernandes, no Manuel Cajuda. São homens do futebol e têm a linguagem do futebol, não têm medo de dizer o que pensam. São eles que fazem do futebol uma coisa mais genuína e verdadeira, não aqueles doutores que falam muito mas acabam por não dizer nada. O futebol é para os desbocados eheheheh