sábado, 20 de novembro de 2010

Curto, médio e longo prazo

Há muita gente que se diz contente com a actualidade benfiquista. Eu não estou. Nem eu nem qualquer adepto minimamente exigente. Encerramos agora uma década com dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga e uma Supertaça, o que faz um total de seis troféus em dez anos, pouco mais que meio troféu por ano. Pouco? Pouco é elogio. Pouquíssimo. Se é bem verdade que recuperámos de um estado pré-moribundo, há que saber dar o passo para o nível seguinte, passo esse que não se tem visto nomeadamente no que às contratações diz respeito.

Um dos principais problemas crónicos do Benfica tem sido uma deficiente abordagem ao mercado. Todos os anos chegam vários jogadores ao nosso clube, alguns de qualidade indiscutível e outros sem qualidade absolutamente nenhuma. E se os maus não singram, não raras vezes os bons seguem-lhes as pisadas. Porquê?

Na minha opinião é devido à incapacidade de se perceber que há perspectivas a curto, médio e longo prazo. Jogadores contratados com a intenção de render no imediato, como Suazo, Aimar, Reyes Carlos Martins ou Ramires têm sido muito bem sucedidos e correspondem às expectativas. São craques experientes e que se conseguem adaptar facilmente a uma nova realidade. Maxi Pereira, Ruben Amorim, Yebda, Alcides ou Rodriguez pertencem a um outro lote de jogadores, na sua maioria relativamente jovens ou com pouca experiência de futebol europeu e cuja adaptação pode demorar algum (mas não muito) tempo. Por motivos diferentes uns singraram mais que outros. Di Maria, Fábio Coentrão, Freddy Adu ou Yu Dabao pertencem ao grupo das esperanças a longo prazo, um grupo de jogadores que precisa de tempo para crescer.

Qual a relação ou problema do Benfica com tudo isto? A instabilidade vivida na Luz nos últimos anos, com o nosso clube a servir de entreposto ou local de mera passagem de jogadores, não ajuda à adaptação dos atletas. Todos os anos entram e saem camiões de jogadores, uns bons outros maus e outros que não são carne nem peixe. E sem estabilidade não há a possibilidade de haver crescimento sustentado dos nossos jogadores a não ser que sejam uns predestinados como Coentrão ou Di Maria. Por isso é difícil que jogadores como Adu, Alcides, Yebda, Amorim ou Maxi atinjam níveis de qualidade semelhantes aos do potencial que têm. Sem estabilidade não é possível haver crescimento.

E assim voltamos a uma velha questão: mesmo os jogadores de alta qualidade não ficam muito tempo no nosso clube. Atraem o interesse de outros clubes europeus com mais meios financeiros e lá vão eles. Normal, não há muito que se possa fazer. O problema é que os reforços voltam a ser jogadores de perspectiva a longo prazo e não a médio ou curto prazo. Vejam o seguinte exemplo: Simão, jogador de qualidade elevadíssima, saiu em 2007 e para o seu lugar veio Di Maria, um jovem de 19 anos com a perspectiva de se desenvolver a longo prazo. O Benfica só seria campeão em 2010, três anos depois da saída do antigo camisola "20" e depois de ter passado por vergonhoso quarto lugar. Di Maria era um jogador feito... e saiu. Veio para o seu lugar outro jovem a necessitar de tempo para se desenvolver, Nico Gaitán. Que tem qualidade ninguém duvida, mas não sabemos quanto tempo necessita para se adaptar. Dois anos? Três? É que neste intervalo de tempo o Benfica vai perdendo títulos sucessivos.

O Porto perdeu Cissokho e chegou um jogador feito, Álvaro Pereira. Perdeu Lucho e chegou um jogador feito, Belluschi. Perdeu Lisandro e chegou Falcao. Perdeu Meireles e veio Moutinho. Tudo jogadores já feitos, todos eles alternativas a curto prazo. Perdeu Paulo Assunção e chegou Fernando, perdeu Quaresma e chegou Hulk, perdeu Bosingwa e já tinham Fucile. Estes são alternativas a médio prazo. O Porto tem ganho campeonatos graças à arbitragem? Sem dúvida. Mas também tem-no feito por ser mais competente na perspectiva de olhar para o futuro próximo.

11 comentários:

Unknown disse...

Isso é verdade. Com mais fruta menos fruta, mais café menos café, a verdade é que os corruptos têm conseguido arranjar sempre boas equipas. Depois da era Mourinho eles reconstruíram praticamente toda uma equipa que tinha sido campeã da Europa e que foi desmantelada no ano em que fomos campeões com o Trapattoni. Será que nós conseguiríamos substituir eficazmente os nossos jogadores? A história recente vem confirmar que não. Até agora ainda continuamos à procura de substitutos à altura de Di María e do Ramires. E os corruptos, com mais ajuda menos ajuda, está com uma boa equipa, com boas alternativas para cada posição e, depois dum início de época tremido em que também foram providencialmente ajudados pelas arbitragens, agora estão a apresentar um bom futebol e há que admitir isso.
Para esta época só nos resta tentarmos as taças.

JNF disse...

Ainda bem que referes o ano de Trap porque agora até me lembrei de mais uma coisa: o Porto, no ano em que fomos campeões, tinha uma super-equipa. Diego, Fabiano, etc. Com o desmantelamento feito no mercado de verão, estes jogadores não se conseguiram adaptar. Elucidativo.

O GLORIOSO disse...

Caro JNF, sendo um bom texto e realista a verdade é que não toma em conta algumas situações e outras são mal explicadas.
É verdade os titulos desta decada são irrisórios para o maior clube do Mundo. Não satisfazem ninguém, simplesmente porque o Benfica deve ganhar sempre todos os anos muitos titulos pois é essa a essencia do clube. No entanto acho que era impossivel fazer melhor e ganhar mais tendo em conta como no fim da ultima decada se encontava o clube. Sejamos claros tivemos quase a ver o fim do Glorioso por gestões criminosas, incompetentes, vigaristas, ilusórias que aconteceram se calhar a partir da saída de Fernando Martins e que teve o seu auge da vergonha com os 2 piores presidentes do clube: Damásio e Vale. Assim era quase impossivel como estava o clube ganhar muitas vezes e o que se fez foi fantástico.
Depois claro que houve erros, que houve muito dinheiro desperdiçado mas essa historia dos camiões de jogadores também não é bem assim. Olhem bem para a historia. A equipa campeã em 2005 com Trap foi uma equipa que começou a ser construida 3 anos antes ainda com a besta do Jesualdo e que Camacho deu um grande contributo. Essa equipa ganhou tudo e até chegou aos quartos da Champions. Vejam a base: Moreira(das camadas jovens titular desde 2002) e Quim (chegou em 2004 ficou 6 anos), Miguel (veio em 2000) Nelson (substituto em 2005), Luisão (2003), Ricardo Rocha (2002), Fyssas (2003), Petit (2002), Tiago (2001) e depois Manuel Fernades (dos Juniores), Giovanni (2003), Zahovic (2001) depois o Nuno Assis (2004), Simão (2001), Nuno Gomes (2002). Ou seja a base começou a ser constriuda em 2002 e com alterações pontuais se manteve até 2006. Então há aqui alguma revolução? Claro que houve jogadores que não singraram, que não renderam mas repito a base da equipa foi-se mantendo.
O grande erro foi em 2007 com aí sim o destruir de uma equipa que por algum azar (a famosa malapata do Engº) não ganhou nada e a vinda de jovens da valor como o Di mas ainda imaturos perante as exigencias.
Mesmo agora os Campeões vêm de uma equipa construida em 2008 (a base está lá toda). Esta epoca sairam 2 jogadores que já se sabia que era impossivel não sairem pois apenas 1 foi a melhor aquisição do Real do Mourinho e outro já é titular do Campeão Inglês. De resto tudo se mantem. Aonde vê a revolução?
Por exemplo Gaitan é de facto um jogador fantástico, muito melhor que Di Maria quando veio mas é obvio que não o jogador que era Di Maria quando saiu. Pois neste momento dificilmente alguém se pode comprar a Di Maria (que diga-se foi um tal de Jesus esse tal "mestre da Tactica" aqui para o Blog que o fez e o preferiu ao Reyes-devia ser corrido por isso), mas Gaitan ninguém tem duvidas é uma aquisição fantástica que nos dará muito dinheiro e titulos.
Repito mesmo cometendo erros nos ultimos anos a politica seguida é a certa.

P.S- Esqueceu-se do Saviola Porquê? Ou é considerado má contratação? Se calhar melhor é o Nuno Gomes.

P.S 2 - O mito da brilhante organização dos Corruptos é bem referido. Com que então perderam o Lucho e Lizandro e não tiveram dificuldades em os substituir? Viu-se na epoca passada. Lembra-se o que se disse do Belluschi. Mas não eles só compram bem, são infaliveis basta ver o Guarin, o Mariano González, o Tomás Costa, o Stepanov, o Miguel Lopes, o Valeri, o Prediguer, o Benitez, o Orlando Sá, ou o Beto e só para falar da ultima epoca.

Éter disse...

Acho que o Maxi já atingiu o potencial máximo há muito tempo, o homem não dá mais do que aquilo. Nunca será brilhante mas desenrasca bem.

Ao Yebda acho que lhe falta estofo competitivo para um grande cube.

O Alcides concordo que se calhar podia ter sido melhor aproveitado.

O Adu é o típico caso de falta de cérebro.

JNF disse...

Sem tempo para comentar tudo, eis o mais importante:

1 - Jess não é o "mestre da Táctica" aqui para o blog. Ele auto-intitula-se como o Catedrático de Futebol. Se era provocação foi como um remate do Postiga: saiu ao lado.

2 - A revolução ocorre todos os anos com saídas em catadupa e entradas em doses industriais.

3 - Não referi Saviola. E então? Também não referi Cardozo ou Katsouranis. Qual é o stress?

4 - Ninguém disse que os corruptos contratavam sempre bem. Claro que não. Contratam mal, mas acertam mais vezes que nós. Belluschi fez um campeonato razoável e Falcao foi brilhante. Foram substituídos por jogadores à altura, eu consigo ver isso e você também consegue se tirar os óculos vermelhos fluorescentes.

Luis Rosario disse...

Já tinha escrito sobre esta questão. Concordo a 99% com o que foi escrito.

Os ciclos de aproveitamento dos grandes jogadores é curtissimo e o processo de substituição das referências do clube não é competente.

Por isso defendo alguém profissional para a função, remunerado por objectivos, com budjet fechado, nunca o presidente, o director desportivo ou o treinador.

dosul disse...

Como é mais do que sabido tanto o Álvaro Pereira como o Falcão foram alvos (praticamente contratados) do Benfica.
Pelos vistos alguma coisa boa foi feita.

Anónimo disse...

Sim o FCP contrata melhor que nós, mas também tem melhores condições! Mais €€€, mais prestigio, mais organização, melhor Presidente, Claques mais duras,...enfim! É preciso dizer mais!?

Anónimo disse...

1- o Adu, pronto, podia ser craque no campeonato fraquinho dos EUA e ter a imprensa americana a valorizá-lo, mas a verdade é que se nao serve para o Monaco, Belenenses, Aris...

2- o Alcides porra... um dos piores laterais direitos da historia do Benfica. mau passe, lento e inadaptado à posição. Onde ele está agora? no Dnipro que já agora joga na Ucrania.


3- Yebda é bom jogador. sim, mas era irregular. podia ser apenas um bom substituto para o javi garcia mas para isso já temos o airton que ainda é melhor que o franco-argelino.

4- Rubem Amorim e o Maxi Pereira são sem dúvida jogadores de boa qualidade, muito úteis ao plantel do Benfica. ambos já tiveram muitas oportunidades, mas já não têm assim uma grande margem de progressão. Nunca passarão da polivalencia e do nível de bom jogador.

Vasco disse...

Muito bem analisado. Parabéns :)

Vasco, saudações benfiquistas

Unknown disse...

O problema do Benfica é não saber contratar. O FCP contrata bons jogadores, é certo, mas contrata ainda mais flops. Como contratam às carradas, é natural conseguirem aproveitar uns quantos. O Benfica não contrata às carradas, logo a taxa de sucesso com os reforços é menor. No entanto, e não páro de realçar isso, existem muitos bons jogadores a actuarem no nosso campeonato, com provas mais que dadas e que dificilmente custariam mais ou tanto como os milhões que custam os argentinos ou até mesmo os brasileiros supostamente craques que o Benfica teima em querer buscar a cada ano que passa. Olhem os jogadores do Braga, os melhores que eles lá têm. Apesar de as direcções não se darem bem, de certeza que com menos dinheiro do que os clubes argentinos pedem pelos seus supostos craques o Benfica conseguiria bons reforços. Até mesmo no Paços de Ferreira ou no Nacional. Porque não deixarem os clubes nacionais servirem duma etapa de adaptação ao futebol português? Enfim, há coisas que eu não percebo.