Eu também te amo, Benfica, mas tu não queres nada de mim. Nem de mim nem dos outros sócios. Esqueceste o teu passado, andas alheado do presente e não sabes o que queres para o futuro. Cuspiste nas pessoas que te ergueram, desprezaste quem te deu valor e hoje levantas-te sobre os ombros de gente de índole e carácter duvidoso. Amo-te Benfica. Pena que não gostes tanto de ti como eu gosto.
A saída de Javi Garcia foi apenas mais um triste episódio que só prova a "incompetência" de quem dirige o Benfica. Se o Benfica estava obrigado a vender devido à falta de liquidez, por que motivo esperou pelo dia 31 de Agosto para o fazer, a preço de saldo, inviabilizando a contratação de um substituto? Ainda por cima, ao preço a que foi vendido, questiono-me porque é que o Benfica não vendeu jogadores excedentários como Gaitán e todos os outros que se encontram a treinar à parte ou emprestados por "n" clubes sem possibilidade de retorno à Luz, perfazendo assim os ditos 20 milhões de euros? E porque motivo se contratou um extremo que não faz parte das contas de Jesus, engrossando a larguíssima lista de jogadores para essa posição? Ou um avançado em final de contrato por 4,5 milhões de euros, cláusula de rescisão do mesmo, mais a cedência a título de empréstimo de um jogador que custou 1 milhão há uns meses, quando se tinha uma jovem promessa portuguesa que foi emprestada para a Coruña? Só nestes disparates, o Benfica estoirou, sem necessidade, 14,5 milhões de euros. Com mais 5,5 milhões que poderiam ter sido feitos com os encalhados Júlio César, Sidnei, Shaffer ou Urreta, não haveria necessidade de vender Javi. B-A = BA.
Como se vê, a saída de Javi não era uma necessidade imperial. Havia outras formas de resolver o problema. Gestores sérios e competentes não teriam de "cobrar" esta dívida ao Benfica, pelo menos desta forma. Dirigentes competentes não aceitariam que as coisas se resolvessem deste modo. Mas a propósito não sei de quê, continua a existir uma crença cega nas pessoas que, em dez anos, quadruplicaram o passivo de Vale e Azevedo. A essas pessoas só desejo que confiem as suas poupanças a Domingos Soares de Oliveira, Luís Filipe Vieira e demais incompetentes. Pode ser que, acabando na penúria, se apercebam do que está a acontecer no Benfica. Ou nem isso, que eu vi aquelas carpideiras na televisão norte-coreana a chorar a morte do Querido Líder. Ou sei que no funeral de Salazar houve milhares de pessoas nas ruas a acompanhar o percurso da viatura que levava o corpo do ditador. Somos assim. Às vezes, mesmo na miséria física, financeira e intelectual, continuamos a apoiar que nos tornou fracos, pobres e burros, em nome de uma ridícula e absurda estabilidade medíocre, por aconchego, por conforto, por falta de vontade em mudar, por inépcia.
Como se não bastasse a saída de um dos pilares do onze titular, a meu ver, a par de Witsel, o jogador mais importante e cuja a venda constituiria o maior rombo nas aspirações do Benfica para 2012/2013, o nosso clube não antecipou o futuro e, apanhado com as calças na mão, não contratou nenhum jogador para substituir o ex-camisola 6. A isto chama-se "planeamento zero". Se o Benfica já sabia que teria de vender alguém até 31 de Agosto, por que motivo não acautelou a possível/provável saída de Javi (ou Witsel) tendo na manga um nome para substituir o espanhol? Costuma-se dizer que quem não tem cão, caça com gato. O problema é que para a posição de trinco, não há cão nem gato. Matic não tem as mesmas características de Javi, estando a anos-luz de assegurar a mesma qualidade defensiva do murciano. Witsel não é trinco puro. Amorim, que poderia ser a solução para este problema, está a reforçar um rival ao título por incompatibilidades com Jesus. Se no ano passado retiraram o tapete a Jesus em Janeiro, com a sua patética conivência, desta vez nem esperaram por Setembro. Obrigado a todos.
Assim vai o Benfica. Inicia a época sem defesa esquerdo, com uma adaptação em curso e um jogador que não conta para Jesus, sem substituto no plantel principal para Maxi, e sem trinco. Isto é mais que meio caminho andado para oferecer o tricampeonato ao Porto, que manteve Moutinho e Hulk, fazendo de Vítor Pereira bicampeão. Só em Portugal. Meus caros, isto não é incompetência. Resta saber se é negligência ou temos gente mal intencionada a decidir, autênticos Porcos de Tróia a dirigir o clube.
Os sócios já não são sócios. São meros clientes. Disse-o há uns dias e confirmou-se. Na semana passada recebi o telefonema de uma simpática jovem que trabalha para o clube a tentar vender-me pedras da calçada, vulgo Praça dos Heróis (outra aberração que será falada brevemente). Um Benfica voltado para os sócios dar-lhes-ia campeonatos. Um Benfica voltado para os clientes tenta vender-lhes os calhaus à volta do Estádio ao preço de 62,90€ o mais barato.
O que interessa às pessoas que dirigem o Benfica é que os sócios, perdão, clientes, estejam interessados em questões secundárias como comprar pedras, jogar futvólei na Praça Centenarium, ir a sessões de autógrafos nos Restauradores, marcar restaurantes pelo site oficial, etc. Questões fulcrais como a conquista de campeonatos são vistas como fait-divers. Porque se os sócios vissem o que está prestes a acontecer em termos de contabilidade de títulos nacionais, talvez se apercebessem de que o Benfica está a um passo de deixar de ser, mesmos em termos históricos, o maior clube de Portugal.
*Frase de Javi Garcia na comemoração do título de campeão nacional 2009/2010.