sexta-feira, 13 de abril de 2012

O próximo passo

Não, este não é mais um post sobre esta época do Benfica. O que havia para escrever, está escrito em abundância, não só aqui neste blog, como por toda a Internet. Opiniões para todos os gostos, análises a todos os pormenores que falharam, discussão sobre opções técnicas que a serem tomadas nos podiam ter levado à glória. Infelizmente, o desfecho desta época não me surpreendeu. Após o Torneio do Guadiana e após o jogo de apresentação da equipa, estávamos então em Julho e ainda longe de percebermos os problemas com Capdevila ou com as dispensas altamente discutíveis de Agosto, escrevi que esta época me cheirava a esturro e que me surpreenderia se não fosse apenas mais uma época de insucessos.

São muitos anos disto. E é precisamente sobre isso que escrevo.

O Benfica não pode mais ficar amarrado a esta realidade em que está mergulhado. O consulado de Luís Filipe Vieira terminou. Pode não terminar no papel, pode ser reeleito em Outubro (não me espantaria isso da parte dos meus consócios), agora na prática... nada mais há para Luís Filipe Vieira fazer no clube.

O primeiro mandato de Vieira está ao nível dos melhores mandatos do clube. Teve duas importantes conquistas, sobretudo ao sucederem à maior seca de títulos da nossa história. E foram alcançados numa época de recuperação financeira do Benfica, como atesta o baixo investimento realizado na época, e que mesmo assim deu frutos desportivos.

Daí para cá, percebemos todas as limitações de uma liderança muitas vezes voluntariosa mas pouco competente, tantas vezes prepotente e outras tantas vezes ausente. Admito que ainda pudesse ser dado o benefício da dúvida em 2009, altura em que Vieira projectou este seu terceiro mandato como o mandato desportivo. Estamos em 2012, e o saldo do mandato desportivo é um mísero título nacional. Não é mais defensável.

O Benfica felizmente tem hoje melhores condições para sobreviver num futuro que se avizinha complexo (em parte pela espiral colossal de endividamento patrocinada por esta direcção). É um mérito de Vieira, inegavelmente. Vejo facilmente uma preparação da próxima época sem grandes investimentos no plantel, visto que entre jogadores do actual plantel e emprestados, temos matéria-prima para montarmos um plantel muito forte, provavelmente a precisar de apenas um ou dois ajustes em posições como a de defesa esquerdo.
Não há que temer a mudança. Nada de positivo na vida se consegue sem risco. O Benfica tem mais de 200.000 sócios (embora muito poucos sejam elegíveis para presidente da direcção), não somos todos uma cambada de Vale e Azevedos, pelo que há que confiar em alternativas que possam vir a existir caso lhes seja dado o devido espaço para aparecerem, num contexto democrático difícil que o nosso clube atravessa na ressaca das alterações estatutárias feitas em 2010.

No futebol do século XXI, e no contexto particular do futebol português, o Benfica precisa de uma estrutura dirigente a tempo inteiro, com uma hierarquia bem definida e que represente realmente uma compreensível delegação de responsabilidades em pessoas que sejam Benfiquistas (chega de infiltrados!) e competentes para a área da sua responsabilidade. Ter um bom gestor financeiro no departamento financeiro, um homem com sensibilidade para tudo o que envolve a gestão de uma equipa ganhadora no futebol. E o presidente tem de ser um gentleman, como o eram quase todos os nossos presidentes até meados da década de 90. Alguém que evite populismos, demagogias, protagonismos estéreis e oportunistas, e que sobretudo evite, no confronto com os nossos rivais, tácticas de guerrilha.

O Benfica não nasceu para viver entrincheirado como outros clubes. O Benfica nasceu para se afirmar como força magnânime de um povo humilde, honesto e trabalhador. E neste momento precisamos de um presidente que perceba e encarne isto mesmo, só assim chegaremos a um novo patamar.

Devemos agradecer a Vieira uma transição para voltarmos a ser ambiciosos, mas este é o momento de virarmos a página e partirmos noutra direcção. Com outras pessoas, outras ideias e de volta às origens dos valores que representam o sentimento Benfiquista. É altura de termos uma gestão profissional em todo o clube, de acordo com as melhores práticas. Saibamos promover o aparecimento de alternativas, e de seguida que tenhamos a coragem de seguir uma delas.

Força, Benfica!

7 comentários:

JNF disse...

Estás a ser injusto quando dizes que o homem não tem nada mais a fazer no SLB. Quando menos esperas, aparece a vendar pedras da calçada e a dizer que vai construir uma Praça dos Heróis. Minhoquices para encher chouriços. Num registo mais sério, diria que Vieira se arrisca a ser o Salazar do Benfica: boa recuperação financeira inicial, mas perda da noção do que fazia transformando o clube numa ditadura em que ele mandava.

Oposição, pois claro! disse...

Boas,

Subscrevo as ideias chave aqui deixadas no seu post, embora não consiga ser tão simpático para com LFV como você.
Concordo que esteja a chegar a hora de aparecer alguém que se assuma como verdadeira alternativa a esta direcção e que não tenha medo ou pudor de dar a cara. Caramba! O Benfica merece! Nos últimos anos, foi-se criando a ideia de que a nossa instituição era um ninho de vigaristas e corruptos. E até pode ter sido e ainda, em certa medida, o ser! Mas se existem (concerteza que sim) pessoas que possam ter a honra e assumir a responsabilidade de pegar no clube e embalá-lo de vez para a rota das vitórias e glórias de outrora que, por favor, apareçam.
Quanto a Luís Filipe Vieira, que tenha um lampejo de lucidez e puro amor ao Benfica, e anuncie a sua retirada no fim deste mandato. O que poderia ter feito pelo Benfica já foi feito e mais do que isso já não consegue. Nem com alterações de estatutos para apertar ainda mais o crivo de quem possa ser elegível para presidente.

Cumprimentos,
Pedro Pereira

Pedro Soares disse...

Boa noite:

Agora que se aproxima o final da época seria engraçado fazer um levantamento dos jogadores emprestados com contracto..tentei fazer essa contabilidade hoje e apontei 31 jogadores, contando já com o Djaniny.

Águia Preocupada disse...

"nada mais há para Luís Filipe Vieira fazer no clube".

Não concordo mínimamente com este frase. Eu diria antes que: LFV não tem competência para mais... Aliás, as suas competências confinam-se ao cimento e a mercantilizar tudo o que mexa... Mas nem mesmo assim deixa o clube (se deixar o que duvido!) em boa situação para que o sucessor empreenda sem grandes sobressaltos, as alterações de que o clube tanto necessita.
Vieira, deixa um legado de dívidas assustadoramente incomportáveis para que possamos esperar um futuro próximo com ânimo positivo.

Anónimo disse...

Considero que, só no final da época, fará sentido para mim realizar um balanço desta época e, consequentemente, sobre o mandato do presidente do Benfica.

Em todo o caso, acho que seria importante definir quais as características que deve ter um candidato a presidente do Benfica.

Aqui ficam algumas dessas características:
1. Honestidade, comprovada pela sua vida profissional e pessoa1.
2. Competência para dirigir um clube com a dimensão do Benfica (como se viu ainda recentemente no outro lado da 2.ª, só a competência na gestão de outro tipo de entidades não é suficiente).
3. Dedicação total à gestão do clube e sem qualquer tipo de honorários (o que significa que tem de ser alguém com algum poder económico).
4. Credibilidade junto do sector financeiro, sem a qual nada será possível, porque este mundo da gestão dos clubes obriga, cada vez mais, a negócios com a banca.

Haverá, porventura, outras características, mas estas são, aquelas que me ocorrem neste momento e que me parecem as mais importantes.

MM

BENFICAHEXACAMPEÃO disse...

Concordo totalmente! Tempo de mudança... honesta competente audaz corajosa humilde sábia!

Papoila calmante disse...

«Devemos agradecer a Vieira uma transição para voltarmos a ser ambiciosos, mas este é o momento de virarmos a página e partirmos noutra direcção. Com outras pessoas, outras ideias e de volta às origens dos valores que representam o sentimento Benfiquista. É altura de termos uma gestão profissional em todo o clube, de acordo com as melhores práticas. Saibamos promover o aparecimento de alternativas, e de seguida que tenhamos a coragem de seguir uma delas.»




Grande train,

Gosto sempre de te ler, alimentas a nossa esperança quanto a uma alternativa futura. Que isso se concretize com mandatos desportivos com sucessos reais.
Abraço grande