quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Agora ou nunca, Selecção!

É a hora da verdade. Mais que na última, será na penúltima jornada que se joga o tudo ou nada para a nossa selecção. Sábado, no Estádio da Luz, a Selecção Portuguesa terá uma tarefa tão ou mais difícil quanto a que teve há precisamente 10 anos, quando em 1999, exactamente no maior estádio nacional, precisava de bater, imaginem, a Hungria, por 3-0, para marcar presença no Euro-2000. O resultado foi alcançado com golos de três ex-benfiquistas: Rui Costa, João Pinto e Abel Xavier, num jogo marcado pela expulsão de Pauleta. Com tantas coincidências históricas nesta recta final do apuramento para o primeiro Mundial africano, esperamos que o final seja igualmente feliz.

Mas não nos deixemos enganar. A década de ouro do futebol português a nível de Selecção A está a acabar, ou melhor, acabou mesmo. Começou em 1998, com o início do apuramento para o Europeu de 2000 e terminou em 2008, com a derrota nos quartos-de-final do Euro austro-helvético. Assim foi. Pelo meio, um Europeu histórico apenas travado pela mão de Abel Xavier, mas marcado por momentos inesquecíveis como a reviravolta no Philips Stadium frente à Inglaterra, ou o golo de Costinha em cima do apito final frente à Roménia, ou ainda aquela defesa incrível de Fabian Barthez a cabeceamento de Abel Xavier já no prolongamento dessa fatídica meia-final.
Dois anos mais tarde, já com António Oliveira no comando e após uma brilhante fase de qualificação onde a selecção de todos nós derrotou a poderosíssima Holanda e a República Irlanda, o Mundial do Oriente, como ficou conhecido, foi uma desilusão, com muita história de bastidores ainda por contar.
Veio Scolari e com ele uma nova forma de olhar e interpretar o que era uma selecção. Amado por uns, odiado por outros, bem ou mal, com competência e com fanfarronice, o facto é que a selecção desfeita em 2002 foi refeita para 2004, num Europeu caseiro, que se iniciou e terminou da mesma forma: derrota com a Grécia. Mas pelo meio, tanto se passou: a revolução no onze após a derrota no Dragão, a vitória histórica em Alvalade frente à Espanha com golo de Nuno Gomes, os mais dramáticos quartos-de-final que assisti em toda a minha vida, na Luz, claro, frente à Inglaterra, num jogo marcado pela falta de atitude de Figo, pelo golo do mal-amado Postiga, pelo grito de raiva de Rui Costa, na sua casa, com aquele relato inconfundível de Jorge Perestrelo, parece que ainda o oiço, "Vamos embora Rui Costa, vamos embora para cima dos ingleses! Eles estão completamente tontos! Rui Costa vai, Rui Costa acreditou, vai atirar para o golo... atira, GOLO! GOLO! GOLO! É GOLO! É GOLO! É GOLO! É GOLO DE PORTUGAL!" e, para terminar, com as grandes penalidades, o falhanço de Beckham, o de Rui Costa, o penalty à Panenka de Postiga, a defesa sem luvas de Ricardo e o golo deste último que selou a passagem às meias. Inesquecível, tal como aquele momento em que Charisteas cabeceou para dar a vitória da frieza e calculismo gregos.
O Euro terminou e novo Mundial estava à porta. Frente a adversários como a Eslováquia, Rússia e Letónia, Portugal conseguiu o apuramento com facilidade, ficando na memória o escandaloso empate em Vaduz, no Liechenstein, seguido da não menos "escandalosa" vitória em Alvalade por 7-1, à Rússia. No Mundial, a primeira fase foi passada com facilidade, com 3 vitórias em outras tantas partidas. Nos oitavos, a Holanda, (1-0), num jogo memorável, tamanha foi a confusão criada pelo árbitro Ivanov, que exibiu um total de 16 cartões amarelos e 4 vermelhos, num jogo que nem teve muitas faltas. Nos quartos, novamente a Inglaterra, mais uma vez despachada nas grandes penalidades, com Ricardo, do Sporting, em evidência ao defender 3 remates. Por fim, sim, fim, as meias, frente ao adversário de sempre nesta fase das competições, a França. Depois do Velodrome em '84, do Koning Boudewijn Stadion em '00, foi a Allianz Arena, casa do Bayern, a assistir a nova derrota lusa frente aos gauleses.
Talvez tenha sido aqui que o ciclo de ouro se esgotou. A caminhada rumo ao Euro-2008 não foi efectuada com a mesma facilidade. A calculadora esteve prontinha a ser utilizada. Portugal não venceu nenhum dos 3 adversários directos (Finlândia, Sérvia e Polónia), mas mesmo assim conseguiu carimbar o passaporte rumo ao centro da Europa. Neste Europeu, já com a saída de Scolari anunciada, as exibições foram pobres e já não havia o mesmo elã de outros tempos. A derrota frente à Alemanha não constituiu, por isso, surpresa.

Hoje a situação é bem diferente. A máquina de calcular está a ser utilizada há já uns bons meses. Fazem-se contas às múltiplas hipóteses de apuramento. Ganhar aqui, esperar pelo desaire da Suécia, pelo deslize da Dinamarca, mas fundamentalmente ganharmos. Até porque isso tem sido o mais difícil. Não se pode desperdiçar pontos em casa com a Albânia, nem perder, em casa, com a Dinamarca num jogo em que a vitória parece estar mais que segura aos 86 minutos. Não pode ser.

E Queiroz? Sim, também tem culpa, mas porventura não é o único problema. Contudo, não é parte da solução. Fez escolhas erradas durante mais de um ano, e ainda hoje continua a faze-las. Mas, ao contrário do que se quer fazer passar, estes anos de ouro iniciados em 1998 não foram regra ao longo dos anos, foram excepção. A nossa selecção, mesmo com Eusébio, Chalana, Bento, Humberto, Gomes, Jordão, Damas ou Futre, foi sempre medíocre, salvo raras e honrosas excepções. Com isto, quero dizer que este ciclo foi mesmo excepção, como foi o de '66 e o de '84 + '86. Apesar de actualmente termos um conjunto de jogadores que joga nas melhores equipas do Mundo, como nunca antes vimos (Real Madrid, Manchester United, Chelsea, Juventus, Internazionale) a verdade é que estes atletas estão bem longe de formar um bom conjunto, algo que Scolari conseguiu fazer, mas que Queiroz não tem capacidade. Desde Agosto de 2008 até Outubro de 2009, vários jogadores de qualidade duvidosa, ou, pelo menos, manifestamente insuficiente e sem merecer a chamada foram lançados na Selecção: Boa Morte, Edinho, Daniel Fernandes, Gonçalo Brandão, Antunes, Eliseu e Orlando Sá são bons exemplos disso mesmo. Outros foram sistematicamente esquecidos: Quim, Moreira, Rúben Amorim, Nuno Gomes, Caneira, Veloso, Maniche ou Pedro Mendes. Experiências falhadas foram mais que muitas: Manuel Fernandes, Danny, Rolando ou Hugo Almeida. Isto tudo junto só poderia dar mau resultado.

Más decisões são comuns em grandes treinadores, mas insistir em erros herdados é ainda mais grave. Foi o que Queiroz fez. Um homem que é visto como o pai da geração de ouro, aquela em que brilharam Baía, Jão Vieira Pinto, Rui Costa e Luís Figo, não pode chegar à selecção e naturalizar todo o jogador estrangeiro com potencial. Falou-se em Paulo Assunção, Liedson e ainda nos irmãos gémeos brasileiros Fábio e Rafael, ao serviço do Manchester United. Que pensarão os jovens aspirantes a futebol? O que pode responder um seleccionador das camadas jovens à pergunta "De que me vale esoforçar aqui na Selecção se depois virá um estrangeiro ocupar o lugar que me deveria pertencer?". Mais, a responsabilidade de Queiroz neste campo é a duplicar, pois foi ele mesmo quem elegeu o staff técnico para os sub-15, sub-17, sub-19, sub-21 e outras. Trabalha com quem quer. E tem contrato até 2012! E ganha mais 33% daquilo que Scolari ganhava! Daí, a sua responsabilidade ser gigantesca. Mas, continuando nos erros, um dos grandes foi insistir em Cristiano Ronaldo como capitão da selecção. Tal como Scolari, não sabe a quem dar a braçadeira. Pensem comigo, que qualidades deve ter um jogador para envergar o símbolo de liderança de uma equipa, de um país? Na minha opinião, idade (ou internacionalizações), competência, respeito (e ser-se respeitado por colegas, adversários e árbitros) e profissionalismo. Para mim, Ronaldo só tem duas destas quatro. Como se sentem Simão, Nuno Gomes ou Ricardo Carvalho, jogadores com mais anos e mais experiência? Como observam o facto de o capitão ser um boémio, jovem inexperiente, que trata o treinador por "tu" e que está num pedestal de semi-Deus incontestável, indiscutível e insubstituível?

São anos a apoiar a selecção, ver um projecto ser feito, desfeito e refeito. Vêm novos jogadores, novos treinadores, mas continua a ser preciso varrer a porcaria que existe na Federação. E enquanto isso não for feito, é impossível pensar em sermos verdadeiramente grandes. Não podemos continuar a viver das aparências.

10 comentários:

SouBenfiquista.com disse...

Já se encontra a funcionar o Portal Glorioso, com links para os blogs, sites, fórums, twitters Benfiquistas e muito mais.
O Portal Glorioso está em http://soubenfiquista.com

Saudações Benfiquistas
SouBenfiquista.com Muito Orgulho

sloml disse...

JNF, podia fazer um comentário enorme, a "esmiuçar" todos os assuntos que referes no post, mas não te quero ocupar aqui muito espaço. Digo apenas que espero, apesar de tudo, que nos qualifiquemos para o Mundial e vou apoiar com todas as forças a nossa selecção nestes 2 jogos que faltam. Quanto a tudo o resto, um dia me debruçarei sobre isso.

Éter disse...

Se não nos qualificarmos, Madaíl e Queiró(o)s(z) vão lavar as mãos, como sempre fizeram ao longo das suas carreiras.

Estou mesmo a ver ser inventado um conluio entre a Suécia e a Dinamarca para se apurarem as duas e deixarem o injustiçado Portugal de fora do Mundial.

Kitnoce disse...

Se Portugal não se qualificar serà somente por culpa propria.... e do Queiros(z)...

Aguia Suiça disse...

Como Benfiquista se a selecção vai ao Mundial estou-me completamente borrifando , desde que o professor tomou conta da equipa ( mas ele é professor de quê ?)para mim a minha selecção é o grandioso S.L.Benfica e a seguir a selecção da Suiça e o resto é conversa ? Este Queirós é muito falso muda de atitude e de discurso quando está com as calças nas mãos e de futebol pouco ao nada percebe , por isso eu sou contra.
Por isso eu digo VIVA O BENFICA.

Hugo disse...

Resultado Sábado:
Dinamarca 0 - Suécia 1

Serve aos dois...

JNF disse...

Não, Hugo, não serve. A Dinamarca quer o primeiro lugar e por isso não se pode dar ao luxo de perder com os suecos, que igualariam os seus vizinhos com 18 pontos, ficando tudo por decidir na última jornada. Acho que os dinamarqueses não querem isso.

Anónimo disse...

falam falam falam e falam do dérbie nórdico. estão a tomar a mesma atitude que tiveram quando receberam a Albania em casa... Portugal está-se a preparar mentalmente da melhor maneira para um desaire. estão mais preocupados com o outro jogo do que com o seu que nao irá ser fácil. AFINAL A HUNGRIA TEM OS MESMOS PONTOS QUE PORTUGAL.

Bola7 disse...

belo texto sim senhor...meus parabens...

MB disse...

Assino por baixo cada palavra! Excelente.