sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A angústia do penalty

O título, apesar de ser semelhante ao do artigo que o LF escreveu no Vedeta da Bola, em nada se relaciona com o mesmo. Este era o título de um artigo numa revista de futebol, poucas semanas antes do Euro-2004, numa entrevista dada por um antigo guarda-redes*. Muito do que vocês vão ler aqui, nos próximo parágrafos, foi esse tal guarda-redes que disse.

Nos últimos dias muito se tem falado e especulado sobre quem deve marcar as grandes penalidades no Benfica. Após o falhanço contra o Setúbal, o terceiro esta temporada já depois dos dois nas duas primeiras jornadas, Cardozo voltou a vacilar. Não estava confiante, notavam-se os nervos, percebia-se perfeitamente. Ao contrário do que possam pensar, e sem querer dar qualquer carácter científico à questão, baseando-me apenas na estatística e no que aprendi do que li daquele tal ex-guarda-redes, os penalties têm muito que se lhes diga.

Em primeiro lugar é necessário que os guarda-redes estudem os marcadores das grandes penalidades. O olhar, o movimento, a paradinha, e, claro, o lado preferencial da execução do penalty, tudo isto deve, ou pelo menos, em teoria, deveria ser estudado. Algum de vós acredita que Ricardo, no Mundial-2006, defendeu aqueles remates dos ingleses por mera sorte ou mero acaso? O lado preferencial é sem dúvida o factor mais importante: Cardozo, por exemplo, prefere claramente o lado direito. Já antes do paraguaio, Simão Sabrosa executava, na grande maioria das vezes, para o lado esquerdo (apesar de em situações de grande pressão, especialmente nos grandes jogos, atirar para a direita, casos do penalty no Bessa, em 2004/2005 e contra o Sporting em 2005/2006). Por norma, os jogadores rematam cruzado, ou seja, os dextros atiram para a esquerda e os canhotos para a direita. Mas para além do local, há que saber interpretar o movimento dos executantes, bem como o olhar: geralmente, os marcadores atiram para o lado oposto ao que olham (Derlei é óptimo exemplo disso, na Final da Taça da Liga do ano passado) e o movimento do corpo é também contrário ao local da baliza para o qual atiram. Os jogadores podem também realizar a paradinha, e os guarda-redes devem estudar isso. Ainda esta semana vi aquela que julgo ser a melhor paradinha que alguma vez vi. Tudo isto deve ser estudado por um guarda-redes. Quem sabe se o nosso guarda-redes titular da Final da Taça dos Campeões Europeus de 88 tivesse feito os trabalhos de casa (ou pelo menos tivesse escutado os conselhos do seu colega mais velho), provavelmente o Benfica teria mais um desses troféus na vitrine.

Como marcar então um penalty? Em jeito ou em força? Rasteiro, junto ao poste, a meia altura, para o centro, alto, picado? Preferencialmente com jeito e muita força ao mesmo tempo (à Cardozo), claro, mas na impossibilidade de tal, então deve ser... bem marcado. Que eu saiba, não há nenhuma teoria sobre o assunto, mas os guarda-redes defendem, ou pelo menos têm maior facilidade em defender, bolas a meia altura, provavelmente devido ao "voo" que executam quando tentam defender. Eu, por exemplo, nunca vi um guarda-redes defender um penalty marcado para um canto superior, logo, este parece ser o local mais indicado para a marcação, apesar de ser também o mais difícil. Provavelmente não se lembram, mas nas meias-finais do Euro-96 foram marcados, naquele histórico Inglaterra x Alemanha, as melhores grandes penalidades que alguma vez vi, sem hipóteses para os guarda-redes (ver aqui). Quem é que no Benfica costuma marcar em força e para os cantos superiores? Cardozo, pois claro.

Mas tal como Cardozo há outros casos de grandes jogadores que falham grandes penalidades. Aliás, a História do Futebol, sobretudo em grandes competições, é bastante fértil em casos destes: no Mundial de 86, naquele que é considerado como um dos melhores jogos de sempre, a França de Platini bateu o Brasil de Sócrates nas grandes penalidades, sendo que ambas as estrelas falharam; ou como compreender o falhanço de Baggio na Final do Mundial 1994, após uma competição onde levou o seu país às costas? Outro facto enunciado por esse tal antigo guarda-redes que vos falei no início, é a maior frequência de falhanços de jogadores que entram no decurso dos jogos. Eu prórpio verifiquei isso a partir do Euro-2004, em grandes competições: Vassel e Rui Costa em 2004, Hugo Viana e Carragher em 2006, Postiga na Taça da Liga, entre tantos outros casos, comprovam a teoria. O que é facto é que todos os grandes jogadores falham, especialmente sobre pressão: um penalty aos 92 minutos é sem dúvida um desses momentos e por isso há que compreender e perdoar Cardozo.

Na minha opinião, Tacuara deve continuar a bater as grandes penalidades, visto ser o jogador que reúne as melhores condições: remata forte e colocado. Deve apenas corrigir, ou melhor, optar por bater para o outro lado, visto que se torna fácil para um guarda-redes adivinhar para que lado ele atira (ora vejam lá para que lado se lançam os guarda-redes quando Cardozo marca um penalty). E se, por algum motivo, não se sentir confiante para marcar, então deve dizer isso ao treinador para que este possa designar outro atleta para o fazer.

*Esse tal guarda-redes era um tal que dava pelo nome de Manuel Galrinho Bento.

6 comentários:

Anónimo disse...

O que é dito está certo. Só uma coisa, com a força que o Cardozo bate é quase irrelevante que o guarda redes adivinhe...

José Vieira disse...

"Cientificamente" falando, entendo que no meio de todas essas (quase) infinitas possibilidades deve estar a virtude ou o segredo.
Para mim, um "penalty" deve ser marcado sempre junto ao poste, alternando o jogador entre o esquerdo e o direito, a "meia altura" e a "meia força".
claro que o "penalty" bem marcado é aquele que entra mas esta parece a fórmula mais simples de se ter sucesso.

Deixando de lado a ciência, o último "penalty" falhado pelo Cardozo lembrou-me um episódio muito antigo, um jogo do glorioso contra (se bem me lembro...) o Dinamo de Kiev, onde o Rui Águas fez um enorme disparate (julgo que um atraso) que levou ao golo dos ucranianos.
Toda a gente "massacrou" o pobre do Rui e, poucos minutos depois, este sofre uma lesão grave (uma fratura num pé, salvo erro).
Um amigo vem ter comigo e, em surdina, diz que o azar/lesão do Rui Águas só podia ter explicação na "energia negativa" criada pelos "mimos" que milhões de benfiquistas lhe dispensaram aquando do golo do Dinamo.
Lembrei-me disto no momento em que Cardozo se aprestava para marcar o "penalty" contra o Setúbal.
Acompanhado por dois amigos todos dissemos, quase em uníssono, que ia falhar. Pelos vistos, foi sentimento partilhado por inúmeros outros benfiquistas.
Moral da história?
Qualquer que seja o jogador que agora marque a grande penalidade no glorioso, o que vou fazer é acreditar que não vai errar.
"Energia positiva" também poderá ser uma fórmula de sucesso!
Melhor do que isso, não custa nada tentar...

João Soares disse...

Sem dúvida...Claro que Cardozo deve continuar a marcar as grandes penalidades...Retirar-lhe esse papel, iria causar uma grande mossa psicológica a Cardozo (e digamos a verdade, Cardozo psicologicamente é um pouco fraco)...

rei das redes disse...

É verdade, de facto o forte do Cardozo não é o psicológico. Mas temos de ver as coisas bem vistas. Se sabemos que psiclogicamente em momentos daqueles o homem fraqueja, temos também de estudar até que ponto é que deve ser ele a marcar os penaltis. Na ultima época em que o Benfica se sagrou campeão não iria o Cardozo sentir em demasia o peso dos 6 milhões de benfiquistas se fosse marcar o penalti do bessa? Para marcar grandes penalidades deve-se escolher um jogar frio, que confia nas suas qualidades. Era esse tipo de jogador que Simão era. Não digo que o Cardozo é mau marcador, ele até executa bem, lá ao seu estilo, o que me parece é que ele não tem confiança nas suas qualidades.
E com um plantel tão grande e com outros artistas (saviola, aimar, martins) há que pensar até que ponto não merecem eles ser os marcadores. Se o Cardozo vai ficar desmoralizado?? Talvez, mas cabe a ele próprio com a ajuda do treinador ultrapassar esse problema.

ps: está um belo dia para ir á luz

Anónimo disse...

Por mim era mandar vir o simão e ele passava a marcar todas as grandes penalidades. Esse para mim é o melhor marcador de penalties. Muito raramente falha.

Anónimo disse...

O javi pode jogar? tinha ideia que não :S