O título, apesar de ser semelhante ao do artigo que o LF escreveu no Vedeta da Bola, em nada se relaciona com o mesmo. Este era o título de um artigo numa revista de futebol, poucas semanas antes do Euro-2004, numa entrevista dada por um antigo guarda-redes*. Muito do que vocês vão ler aqui, nos próximo parágrafos, foi esse tal guarda-redes que disse.
Nos últimos dias muito se tem falado e especulado sobre quem deve marcar as grandes penalidades no Benfica. Após o falhanço contra o Setúbal, o terceiro esta temporada já depois dos dois nas duas primeiras jornadas, Cardozo voltou a vacilar. Não estava confiante, notavam-se os nervos, percebia-se perfeitamente. Ao contrário do que possam pensar, e sem querer dar qualquer carácter científico à questão, baseando-me apenas na estatística e no que aprendi do que li daquele tal ex-guarda-redes, os
penalties têm muito que se lhes diga.

Em primeiro lugar é necessário que os guarda-redes estudem os marcadores das grandes penalidades. O olhar, o movimento, a paradinha, e, claro, o lado preferencial da execução do
penalty, tudo isto deve, ou pelo menos, em teoria, deveria ser estudado. Algum de vós acredita que Ricardo, no Mundial-2006, defendeu aqueles remates dos ingleses por mera sorte ou mero acaso? O lado preferencial é sem dúvida o factor mais importante: Cardozo, por exemplo, prefere claramente o lado direito. Já antes do paraguaio, Simão Sabrosa executava, na grande maioria das vezes, para o lado esquerdo (apesar de em situações de grande pressão, especialmente nos grandes jogos, atirar para a direita, casos do
penalty no Bessa, em 2004/2005 e contra o Sporting em 2005/2006). Por norma, os jogadores rematam cruzado, ou seja, os dextros atiram para a esquerda e os canhotos para a direita. Mas para além do local, há que saber interpretar o movimento dos executantes, bem como o olhar: geralmente, os marcadores atiram para o lado oposto ao que olham (Derlei é óptimo exemplo disso, na Final da Taça da Liga do ano passado) e o movimento do corpo é também contrário ao local da baliza para o qual atiram. Os jogadores podem também realizar a paradinha, e os guarda-redes devem estudar isso. Ainda esta semana vi aquela que julgo ser a melhor paradinha que alguma vez
vi. Tudo isto deve ser estudado por um guarda-redes. Quem sabe se o nosso guarda-redes titular da Final da Taça dos Campeões Europeus de 88 tivesse feito os trabalhos de casa (ou pelo menos tivesse escutado os conselhos do seu colega mais velho), provavelmente o Benfica teria mais um desses troféus na
vitrine.
Como marcar então um
penalty? Em jeito ou em força? Rasteiro, junto ao poste, a meia altura, para o centro, alto, picado? Preferencialmente com jeito e muita força ao mesmo tempo (à Cardozo), claro, mas na impossibilidade de tal, então deve ser... bem marcado. Que eu saiba, não há nenhuma teoria sobre o assunto, mas os guarda-redes defendem, ou pelo menos têm maior facilidade em defender, bolas a meia altura, provavelmente devido ao "voo" que executam quando tentam defender. Eu, por exemplo, nunca vi um guarda-redes defender um
penalty marcado para um canto superior, logo, este parece ser o local mais indicado para a marcação, apesar de ser também o mais difícil. Provavelmente não se lembram, mas nas meias-finais do Euro-96 foram marcados, naquele histórico Inglaterra x Alemanha, as melhores grandes penalidades que alguma vez vi, sem hipóteses para os guarda-redes (ver
aqui). Quem é que no Benfica costuma marcar em força e para os cantos superiores? Cardozo, pois claro.

Mas tal como Cardozo há outros casos de grandes jogadores que falham grandes penalidades. Aliás, a História do Futebol, sobretudo em grandes competições, é bastante fértil em casos destes: no Mundial de 86, naquele que é considerado como um dos melhores jogos de sempre, a França de Platini bateu o Brasil de Sócrates nas grandes penalidades, sendo que ambas as estrelas falharam; ou como compreender o falhanço de Baggio na Final do Mundial 1994, após uma competição onde levou o seu país às costas? Outro facto enunciado por esse tal antigo guarda-redes que vos falei no início, é a maior frequência de falhanços de jogadores que entram no decurso dos jogos. Eu prórpio verifiquei isso a partir do Euro-2004, em grandes competições: Vassel e Rui Costa em 2004, Hugo Viana e Carragher em 2006, Postiga na Taça da Liga, entre tantos outros casos, comprovam a teoria. O que é facto é que todos os grandes jogadores falham, especialmente sobre pressão: um
penalty aos 92 minutos é sem dúvida um desses momentos e por isso há que compreender e perdoar Cardozo.
Na minha opinião, Tacuara deve continuar a bater as grandes penalidades, visto ser o jogador que reúne as melhores condições: remata forte e colocado. Deve apenas corrigir, ou melhor, optar por bater para o outro lado, visto que se torna fácil para um guarda-redes adivinhar para que lado ele atira (ora vejam lá para que lado se lançam os guarda-redes quando Cardozo marca um
penalty). E se, por algum motivo, não se sentir confiante para marcar, então deve dizer isso ao treinador para que este possa designar outro atleta para o fazer.
*Esse tal guarda-redes era um tal que dava pelo nome de Manuel Galrinho Bento.