segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Estranhas opções do Coveiro da Táctica

Dizem que o Benfica é um cemitério de treinadores. O senhor Lopes, na imagem, teve cativo durante muitos anos na Luz, lá no alto do terceiro anel, mesmo nos anos negros da década de 90. Quando não gostava do que via, não se coibia de puxar do seu lencinho branco para acenar aos treinadores. É verdade. O senhor Lopes é o coveiro dos treinadores do Benfica. Mal vê a hora em que possa levar o outro coveiro, o da táctica, aquele que cria buracos no meio-campo, para a sua sepultura. É que isto de brincar com o Benfica não tem graça nenhuma.

E é a brincar com o Benfica e com os benfiquistas que Jorge Jesus anda. Enquanto vai limpando 333 mil euros mensalmente, vai coleccionando extremos, adaptando avançados a defesas e cavando buracos no meio-campo. Os erros do auto-intitulado "Mestre da Táctica" sucedem-se e não há quem ponha um travão neste louco.

A começar na convocatória. Vejamos: cinco defesas, nove médios, dois avançados. Para além do excesso ridículo de médios, nomeadamente de características ofensivas (sete), saltam à vista os dois avançados. Como se não bastasse, Jesus optou por iniciar o jogo com esses mesmos dois avançados, não deixando nenhum no banco. Se se lesionasse um deles no início da partida, seria obrigado a mudar completamente o esquema de jogo. Isto é daquelas coisas que nem o Diabo se lembraria. Tem o plantel que quis e que escolheu, mas pelos vistos não confia em Saviola, Kardec, Hugo Vieira, Michel, Djaló ou Mora para fazerem parte de uma lista de convocados. Depois, claro, no decorrer do jogo, face a um resultado negativo, tira um avançado para colocar um médio, precisamente o inverso do que fez com o Porto no ano passado quando ganhávamos por 2-1. As voltas que a vida dá, hein? Estranho mundo este.

Mas a loucura do mestre da táctica não se esgota nas convocatórias. O homem que diz que não vai repetir os mesmos erros do passado, insiste em voltar a fazer tudo mal novamente. A começar na saída a jogar, à Barcelona. Jogar daquela forma não é para quem quer, é para quem pode. Não estão a ver os dois centrais do Benfica com pezinhos para aquele tipo de jogo, muito menos Artur, cuja principal pecha é, precisamente, o jogo de pés. O jogo contra o Braga deixou esta situação uma vez mais bem visível. Foram vários os lances que se começaram a construir demasiado atrás e que acabaram com a bola a sair pela linha lateral do nosso meio-campo ou com a redondinha nos pés dos jogadores bracarenses em situações de superioridade numérica, ou perto disso.

Para quem diz que não vai voltar a repetir os mesmos erros, é estranho ver o Benfica jogar com dois blocos partidos, um ofensivo e um defensivo, ver a transição defesa-ataque ser feita através da colocação dos laterais como extremos, bem encostadinhos na faixa, deixando no centro do relvado, completamente só, Axel Witsel. Javi baixa para entre os centrais, os laterais sobem exageradamente, os extremos estão lá na frente e os avançados idem. É muito estranho que numa equipa que supostamente quer privilegiar a posse de bola se veja apenas um elemento sozinho no centro do campo. O Benfica vê-se forçado a jogar com passes verticais em força para um Witsel sozinho e desapoiado. Abre-se uma cratera ofensiva entre os três de trás (Garay, Luisão e Javi) e os restantes elementos da frente, acumulando-se, por isso, várias perdas de bola que geram contra-ataques perigosos.

É igualmente incompreensível, especialmente para quem diz que não vai cometer os mesmos erros, ver o buraco que se cria no meio-campo defensivo, especialmente na transição ataque-defesa. A imagem abaixo mostra o que aconteceu no jogo contra o Braga com apenas... 28 segundos de jogo. Surreal. Defesa a 4 e depois observa-se Javi, Witsel e Salvio (?) completamente desposicionados, juntos, abrindo-se uma cratera à entrada do último terço do campo. Situações como esta acontecem, muitas vezes, fruto de uma pressão exagerada e injustificada, em que os jogadores perseguem bolas que são praticamente impossíveis de alcançar. Mesmo a abordagem individual aos lances defensivas roça o patético em muitas ocasiões. Por que é que os jogadores do Benfica se colocam não raras vezes, imediatamente atrás dos adversários deixando-os à sua frente no relvado, com espaço para galgar metros no terreno? Porque não se colocam entre a bola e a baliza, preferindo tentar jogar sistematicamente na antecipação, falhando-a na grande maioria das vezes? São mais as oportunidades de perigo que se geram no sentido da baliza do Benfica do que as que resultam a favor do Benfica fruto de uma antecipação bem conseguida.

Com o Braga vimos os mesmos erros de sempre. Até a nível individual, com a aposta num defesa esquerdo que não é defesa esquerdo. Se no ano passado tínhamos um com qualidade mas proscrito (Capdevila) e um sem qualquer qualidade (Emerson), este ano temos um extremo que só na cabeça deste treinador é que é defesa e um jogador de 27 anos, já feito, contratado a seu pedido, que assinou por 5 anos e que, pelos vistos, não conta para quem o contratou (brilhante acto de gestão, bravo). Melgarejo é o culpado nos dois golos sofridos. Nesses dois lances comete três erros que acontecem na medida em que não é defesa esquerdo. No primeiro lance, em vez de seguir a trajectória da bola e de a cortar com o pé esquerdo no sentido que esta levava, efectua um cabeceamento suicida em direcção à baliza de Artur, que pouco ou nada poderia fazer. No segundo golo, além do alívio frouxo para uma zona onde estavam jogadores do Braga, não recuperou a tempo de evitar a colocação de Mossoró em jogo. Para além destes dois lances, foram muitos outros onde Melgarejo foi indecentemente "comido". O primeiro lance de perigo do Braga é exemplo disso: após Alan meter o passe para Mossoró, Melga deixa-se bater pelo capitão bracarense, oferecendo-lhe o espaço entre si mesmo e a baliza. Se Lima tivesse metido a bola para a direita, o golo seria quase certo. Resumindo, dois golos ridículos que sucederam devido à incompetência do jogador na posição para a qual foi destacado e graças à casmurrice de um treinador que acha que sabe mais daquilo que realmente sabe. Obviamente que, num clube sério, um presidente não deixaria que estas situações acontecessem. Mas isso era se o presidente fosse um homem competente. Parecendo que não, e não querendo escamotear a tragédia que efectivamente era, com Emerson, muito provavelmente, teríamos ganho este jogo.

E o que dizer dos últimos minutos de jogo? Mesmo com dez elementos durante cerca de 15 minutos, o Braga, de forma incompreensível, teve mais bola que o Benfica. Criámos mais algumas chances de golo, mas territorialmente o Braga não foi inferior nem nos cedeu a iniciativa de jogo, tendo-se até aproximado da baliza de Artur.

Jesus, o único erro, foi não seres despedido no verão. E quem te despediria, bem podia pegar nas malas e fazia-te companhia. Pior que ter vergonha, só mesmo não a ter.

16 comentários:

Anónimo disse...

Boas,

parabéns pela análise. Mas JJ não é apenas teimoso é também um tipo de sorte pois com empates de azuis e verdes lá vem mais um balão de oxigénio viciado...

Abraços do 177329

César disse...

Penso que JJ quer ser despedido,indemnizado e rumar para outras paragens.Não acredito que seja incompetência.

Anónimo disse...

Bravo!

Anónimo disse...

quer dizer, apareçe um gajo que quer jogar um futebol total, altamente atacante, de pressão alta, de grande intensidade, e a malta não gosta, prefere um jogo pastoso, com muitos trincos, do 1-0 marcado aos 90 minutos, que é quando um gajo arrisca um bocadinho mais...haja paciência, o homem (comete os seus erros, quem não os comete?)mas porra, o gajo mete o Benfica a jogar como eu nunca tinha visto, ao ataque sem medos, porra que o pessoal quer é espéctaculo, isto é uma táctica vintage, dos tempos do Eusébio...Equipa boa tem que saber defender com poucos, até porque defender é muito mais fácil que atacar...O Jesus é maluco, mas eu gosto, hoje em dia ver um jogo do benfica, é não aguentar estar com o cú sentado no sofá, estar constantemente a ver que o golo pode chagar a qualquer minuto, é vibrar com a velocidade imposta no ritmo e na execução, é espéctaculo na sua mais pura essência...Erros do Jesus neste jogo (na minha opinião): a inclusão de Rodrigo a titular, com esta nuance de o Javi, virar mais central que centro campista, eu acho que o jesus, devia por mais um jogador no apoio ao Witsel (por exemplo o C. Martins, Aimar, Rosa, Matic); Sálvio a titular foi um erro, porque veio a desmotivar um activo, que tem que ser mimado como um puto de 2 anos, mas que mostra grande valor, estou a falar do Enzo, que vez uma grande pré ; O C. Marins não ter entrado em vez do Aimar, soa-me a muito injusto, para um jogador, que se diz estar no seu melhor. A inclusão do Melga, não acho um erro, até porque só o futuro dirá se foi uma boa aposta ou não, o que é errado é não haver um plano B, para o acaso da aposta se mostrar errada, e para que o Melga também não tenha toda a pressão do mundo e possa ser protegido se as coisas começarem a correr muito mal, por isso acho importante o Benfica ir buscar um defesa esquerdo de "profissão". Neste momento o Benfica, é visto no estrangeiro, como uma equipa que joga um futebol bonito, atacante, que faz qualquer um vibrar. O meu obrigado Mister.Os erros, deixa estar, é sinal que és humano.

POC disse...

Subscrevo INTEIRAMENTE.
Bravo, JNF.
Hoje farei a minha parte, no meu tasco.

Anónimo disse...

Foram 6 semanas de pré época para nada.

Joga toda pré época com 1 avançado e 3 médios, com alguns resultados, para chegar o 1º jogo, com o Braga a povoar o meio campo, e jogar com o Javi e Witsel. Resultado: com o meio campo do Braga que já joga de olhos fechados, passaram o jogo a cheirar a bola.

Melhor jogador da pré época: Carlos Martins. 0 minutos.

GNR

Anónimo disse...

Sem qualquer intuito de te tirar razão, pois as mesmas questões também me assolam a alma, mas:

-Quantas oportunidades de golo teve o Braga? Se as que teve foram por erros individuais, será culpa da disposição dos jogadores em campo? Mesmo nessa imagem, não sendo a posição a ideal não nos encontramos sempre em superioridade numérica entre a bola onde entrar?
-Jesus assume o risco, e isso paga-se muitas vezes, mas não era isto que pediamos há alguns anos atrás para se fazer em jogos em casa contra um braga? Jogar de inicio com o porto, competições europeias, no ano passado em guimarães é q acho incompreensivel.
-Saída a jogar á barcelona? Não saímos a jogar assim há 4 épocas?
-Se partirmos do principio que devemos jogar com 2 avançados quem sairia para entrar C. Martins?
-Não gostei de ver Enzo de fora. Não por ser o Salvio a entrar mas porque temos a obrigação de saber gerir melhor esta questão.

Apenas comentei para tentar discutir isto com alguma racionalidade. Ontem por exemplo a lagartagem queixa-se q o problema é o ponta de lança estar sempre sozinho, se calahr assim é mais fácil ter a equipa organizada defensivamente. Não estaremos a discutir a questão de querer que a manta tape sempre os pés e cabeça (e eu tambem nao gosto d ver as tais crateras), conseguirmos criar oportunidades de golo e ao mesmo tempo termos sempre os caminhos tapados pra baliza?


- Vi o jogo num café, algo distante da televisão, por isso e como o referiste posso estar enganado, mas nao me pareceu q o Melgarejo á parte dos erros individuais tenha estado assim tão mal.
Mas concordo é incompreensivel não se ter acautelado este problema.

Abraço, pge.

Antonio disse...

Certíssima análise. Só um cego ou doente é que não vê que esta táctica, contra equipas com jogadores bons tecnicamente, não dá resultado. Como é que este energúmeno, depois de fazer quase toda a pré-época em sistema 4-5-1 ou 4-3-3 (conforme a posse ou não da bola), começa a temporada, contra uma das melhores equipas da liga, em 4-4-2? É preciso ser muito estúpido!!! Já fui um defensor de JJ, mas neste momento, para mal dos nossos pecados, acho que vamos ter mais uma época de insucessos.

Meddler disse...

Jorge Jesus não é incompetente. É negligente.

Tobias Minus disse...

Há muito tempo que isto está armadilhado!

Anónimo disse...

Já não sei o que dizer.
Eu gostava de saber para que raio serve a pré-época para o JJ. Só pode ser mesmo para os jogadores ganharem ritmo. Pois, usa uma táctica que na pré-época resulta e traz boas exibições e resultados, em jogos oficiais usa outra. Há jogadores que se destacam e fazem grandes exibições na pré-época e nem saem do banco ou só jogam uns minutitos no final. 2 jogadores acabam de chegar, falham quase toda a pré-época e não jogam um único minuto e nos jogos oficiais são logo titulares.
Depois as declarações dele sobre o Melgarejo dizendo que ele é muito bom ofensivamente mas que na defesa é que era mais fraco. LOL Então mas a prioridade de um DEFESA esquerdo não seria defender? Parece-me que a vontade do JJ era jogar com 10 avançados, e um GR.
Mas o que mais me preocupa agora é que, muito provavelmente o Benfica vai contratar um LE mas o JJ já veio dizer que o Melgarejo vai continuar a jogar (deja vu do Roberto e Emerson). Ou seja, se vier um LE é quase certo que ele vá para o banco.
Outra coisa, que também me dá voltas à cabeça é: o Benfica contrata o Luisinho, que é um jogador mais maduro, mais experiente e que, apesar de não ser um LE de raiz, jogou nessa posição na época passada no Paços e realizou exibições de bom nível. Eu pergunto, será que não seria melhor o JJ ter dado tempo de jogo ao Luisinho, ir corrigindo alguns pormenores em vez de pegar num extremo que não faz a minima ideia de como é defender, e adaptá-lo a LE?

PS: Ontem vi o jogo do Benfica B. Mas que grande exibição dos miúdos. Até se me parte o coração quando vejo o Miguel Rosa a jogar e saber que ele jamais vai por os pés na equipa principal enquanto o JJ lá estiver.

Portillo disse...

JNF que achas do regresso do São Trapattoni caso Jesus vá embora?

JNF disse...

Portillo,

dizem que não se deve voltar a um sítio onde já se foi feliz. No Benfica, esta frase tem-se revelado certeira ao longo dos anos salvo raras excepções.

Trapattoni é do mais competente que pode haver no mundo do futebol. Mas com um estrutura tão incompetente quanto a nossa, as coisas poderiam não resultar, mesmo com o italiano.

Trapattoni numa estrutura forte seria campeão. Assim, com a actual... é muito difícil. Para ele e para qualquer um.

Mas o cenário é completamente irrealista. Trapattoni não estaria minimamente interessado em regressar.

Portillo disse...

Claro, até porque foi maltratado como tudo quando cá esteve. Mas se com uma equipa de tostões onde se aproveitavam 14 jogadores e poucos deles seriam titulares hoje em dia, leva-me a pensar o que o seu pragmatismo nos poderia dar...

JNF disse...

Verdade. Mas ele não está para aqui virado. Continua a fazer um trabalho verdadeiramente brilhante com a Irlanda, levando-a a uma grande competição 10 anos depois, tendo falhado a outra graças à mão de Henry e a um árbitro, enfim...

Portillo disse...

Resta-nos lamentar termos tido, para mim, o melhor treinador do mundo e não o termos sabido estimar... Mais uma prova que este benfiquinha de Vieira não é o Benfica que nasci a amar