Que critérios podem servir para eleger um conjunto de figuras, neste caso, as 10 melhores da década no que às modalidades do Benfica diz respeito? Títulos? Tempo no clube? Jogar à Benfica? Qualidade técnica e táctica? Liderança? O exercício que se segue é subjectivo e não é fácil. Eis aqueles que são, na minha opinião, os dez melhores de uma década de modalidades colectivas de pavilhão no Benfica:
10 - Carlos Carneiro

Não houve jogador que se destacasse tanto no Andebol do Benfica como Carlos Carneiro. O camisola "18" é o jogador que todos procuram em campo, os colegas querem que ele resolva os jogos, os adversários querem impedi-lo de rematar à baliza. Na posição de central, desempenhou um papel importantíssimo no título conquistado em 2008 sobre o comando de Donner e vem assumindo importância crescente no andebol encarnado. Este vimarenense formado no ABC já adquiriu um lugar de ouro no quadro de honra dos melhores atletas das modalidades do Benfica.
9 - Sérgio Ramos

Regressou ao clube que o lançou para a ribalta do basquetebol em boa hora para liderar, dentro de campo, a equipa rumo aos títulos que já escapavam há algum tempo. O camisola "6" encarnado deixou o Benfica no final da década passada e regressa quase dez anos depois de uma carreira recheada de sucessos e presenças nos melhores campeonatos europeus (Itália e Espanha). Dentro de campo é vê-lo lançar de dois, fazer triplos, conseguir ressaltos e roubos de bola. Para quem aprecia basquetebol, é um jogador que vale mesmo a pena ver jogar. E quando não pode dar o seu contributo à equipa é impressionante a forma como sofre pelo Benfica. Liderou a equipa nos dois títulos nacionais conquistados esta década.
8 - Alípio Matos

Existe, entre os benfiquistas, uma enorme ingratidão para com Alípio Matos. O seu estilo chorão e de ataque constante às arbitragens acabou por criar anticorpos nos benfiquistas. A verdade é que Alípio ganha e faz milagres por onde passa. Foi ele um dos pais da modalidade mais bem sucedida nesta década, o Futsal. Impulsionou o projecto e deu-lhe forma levando o Benfica ao seu primeiro título nacional e à primeira final europeia. Manteve-se depois no clube com outras funções, de director do Futsal, e sagrou-se novamente campeão mas já com Adil Amarante ao leme. Para mim, vou recordá-lo como o "pai" do Futsal encarnado, ele que ajudou de diversas maneiras a que o Benfica tivesse nesta modalidade o sucesso que tem hoje.
7 - Aleksander Donner

Antes dele, o Benfica pouco ou nada ganhava. Depois dele, pouco ou nada consegue ganhar. Pena que só tenha passado dois anos da sua brilhante carreira no Benfica, mas esse tempo serviu para quebrar o jejum de 18 anos sem vencer o campeonato nacional da modalidade. Fruto de uma disciplina férrea, autoritária e de pulso firme e forte, Donner manteve-se fiel aos seus princípios e conduziu a equipa ao triunfo derrotando adversários mais experientes e mais fortes. O seu mau feitio intolerável acabou por ditar a sua dispensa. Ficámos com um treinador mais simpático, mas que não consegue valer metade do que Donner valia. Para ganhar é preciso sacrifício e abdicar de algumas coisas. Donner sabe-o. Os dirigentes que o demitiram, não.
6 - Arnaldo Pereira

O
Expresso de Bragança é um dos jogadores que marcam a década encarnada da sua modalidade mais bem sucedida, o Futsal. Veio em 2002/2003 do campeão Freixieiro, na mesma época em que André Lima chega ao clube e montam desde logo uma dupla de sucesso que em ano de estreia de águia ao peito daria o primeiro campeonato da modalidade ao Benfica. Conhecido por aparecer nos momentos mais decisivos, marcou vários golos bastante importantes que nos valeram títulos, como em 2008 frente ao Belenenses ou no dia 25 de Abril de 2010, data da vitória na UEFA Futsal Cup.
5 - Panchito Velasquez

Um verdadeiro artista, o Maradona do Hóquei em Patins. Nascido na terra de Diego, Panchito Velasquez foi o menino-maravilha do hóquei benfiquista no início do século. Era capaz de tudo com o
stick na mão. Golos impossíveis marcaram a sua passagem pelo Glorioso, como aquele em que, depois de fintar meia equipa do Porto, muda o
stick de mão e deixa Edu Bosch pregado ao solo. Fez parte de uma época dourada no nosso hóquei onde pontificavam figuras imortais como Luís Ferreira, Vítor Fortunato, Paulo Almeida, José Carlos ou Filipe Gaidão. Pena que só tenha jogado por duas épocas completas no Benfica e não ter conseguido ganhar o campeonato nacional, mas os momentos de excelente hóquei eram a sua imagem de marca. Recordaremos para sempre os 7-4 e os 12-4 ao Porto, o regresso dos relatos na rádio, as transmissões na RTP1. Tudo por causa do hóquei de excelência praticado por este senhor jogador.
4 - Henrique Vieira

O actual treinador de Basquetebol é mais um imortal da História das Modalidades do Benfica. Enquanto jogador pertenceu àquele fantástico grupo liderado por Carlos Lisboa que venceu campeonatos atrás de campeonatos. Enquanto treinador devolveu o Benfica aos títulos e à Europa do Basquetebol. Foi campeão 14 anos depois do último título alcançado (sem uma única derrota na fase regular) e revalidou o título no ano seguinte de forma categórica. Como se não bastasse, devolveu o Benfica à alta roda europeia, colocando o nosso clube nos 16 melhores da EuroChallange, algo completamente impensável há uns anos. Depois de épocas sem fim preparadas em cima do joelho, Henrique Vieira trouxe sede de vencer e de devolver o Basquetebol encarnado aos seus bons velhos tempos.
3 - Pedro Costa

Não é um jogador que dê nas vistas pelas fintas, pelos golos, mas merece um enorme destaque por ser um "jogador à Benfica" semelhante àqueles que vimos e ouvimos falar no passado do futebol. De uma entrega ao jogo, ao clube e à profissão inexcedíveis, Pedro Costa tornou-se por mérito próprio capitão e líder de uma grande equipa de futsal. O baixinho camisola "4" é e foi, durante vários anos, o dínamo encarnado que jogava, jogava, jogava, jogava sem parar, sem se cansar. É um daqueles jogadores que pode passar despercebido aos olhos dos adeptos durante os jogos mas que é a alma da equipa. 5 campeonatos em 7 anos e uma UEFA Futsal Cup são motivos para o admirar.
2 - Ricardinho

O maior mágico da história do Futsal Português. É esta a melhor descrição que se pode fazer de Ricardinho. Se no futebol houve Maradona, no futsal há Ricardinho, o homem dos golos impossíveis, dos passes impossíveis, das jogadas impossíveis. Um miúdo franzino a quem foram fechadas muitas portas ao longo da vida fruto da baixa estatura, subiu na carreira fazendo-se mais do que um artista de futebol de rua, um senhor jogador. Nos sete anos que equipou de águia ao peito venceu quatro campeonatos e liderou dentro de campo a sua equipa rumo ao maior título europeu de clubes que se pode alcançar no Futsal. Hoje espalha magia no Japão, onde continua a mostrar que o sucesso e a qualidade se conseguem com trabalho e dedicação. Um profissional de mão cheia que soube colocar todo o seu talento ao dispor da equipa.
1 - André Lima

É indiscutivelmente o número 1. Chegou ao Futsal Benfica numa fase embrionária do projecto e foi ele quem ajudou, dentro de campo, mais que qualquer colega, a tornar o sonho realidade. Conduziu a equipa, dentro de campo, rumo ao primeiro campeonato nacional de Futsal da História do Benfica e nos seis anos em que envergou a camisola "5" e a braçadeira de capitão venceu por quatro vezes este troféu. Lembro-me de um mítico jogo em 2005, na final do primeiro campeonato ganho da nossa História, em que André Lima, já no prolongamento, e após momentos de grande tensão no pavilhão da Luz, desempata o jogo e grita "GOOOOLO!" a plenos pulmões juntos dos ouvidos do capitão sportinguista Zezinho. Jogo esse que o Benfica venceu por 7-5 com 5 golos de André Lima. A juntar a todos estes feitos, enquanto treinador encarnado, em apenas duas épocas, conquistou tudo o que havia para ganhar: campeonato, Taça de Portugal, Supertaça e UEFA Futsal Cup, a maior prova europeia de clubes que lhe havia fugido enquanto jogador no ano de 2004 ao perder na final. Um jogador à Benfica, ganhou tudo o que havia para ganhar. E isto faz dele o número 1.
P.S. O meu agradecimento especial ao Faneca que ajudou a elaborar este post.