quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Selecção sub-21 - O Futebol Medieval

Um dos nomes consagrados do desporto-rei é, sem dúvida, Rinus Michels. Este jogador e, mais tarde, treinador holandês ficou conhecido por implementar um estilo de jogo denominado por Futebol Total, em que todos os jogadores podem ocupar, a qualquer altura do jogo, posições diferentes daquela a que costumam jogar, sem que isto afecte a coesão da equipa. O que é que isto provoca? Para além de uma aparente grande salganhada, um futebol com um elevado índice ofensivo e um ataque que pode surgir de qualquer jogador, sendo no fundo, um estilo totalmente imprevisível que só deve ser executado por jogadores altamente qualificados e por treinadores muito capazes.

Em 2008, Rui Caçador resolveu inovar: o futebol total de Michels parecia estar ultrapassado e como novos tempos exigem novas ideias, Caçador pensou em adoptar um estilo ao qual se pode chamar de Futebol Medieval. E em que consiste este futebol medieval? Consiste em mandar um grupo de onze rapazes para um campo de futebol e pedir que se desenrasquem de uma selecção qualquer.

Agora mais a sério. A selecção de sub-21 precisava de ganhar por uma diferença de apenas 3 golos. E digo "apenas" porque o oponente se tratava da República da Irlanda, selecção fraca, sem qualquer ideia de jogo (tal como a nossa) e que nos 7 jogos anteriores tinha conseguido marcar 2 golos, tantos quanto marcou ontem aos nossos sub-21. O resultado desta batalha épica entre duas das piores selecções sub-21 que já vi é sabido. Importa portanto perceber o que falhou. Passo a explicar: o primeiro erro de Caçador foi o esquema táctico. Um 4x3x3 onde no meio campo figuravam 3 trincos. Três! Contra a Irlanda! E numa das alas ofensivas quem jogava era Paulo Machado, habitual... trinco. Além disso, mesmo estando empatado, só perto do final do jogo é que Caçador olhou para o relógio de parede que trazia ao pulso e resolveu desfazer o quarteto defensivo, quado era igual empatar ou perder por 4 ou 5. No global da partida, Portugal foi uma selecção sem qualquer ideia de jogo, muito mole e seria presa fácil para uma equipa mediana qualquer do nosso campeonato.

Como já vem sendo apanágio desta selecção de "jovens esperanças", a desilusão superou a ilusão de estar presente no Euro-2009. Com uma selecção repleta de "estrelas", como Miguel Veloso, Pelé, Manuel Fernandes, João Moreira, Vaz Té, Vieirinha, Paulo Machado, Manuel da Costa, etc, Portugal volta a fazer figura triste. E porquê? Porque Manuel Fernandes e Miguel Veloso são jogadores normais com tiques de vedetas que não são bons para um conjunto. Porque Pelé é uma desgraça no capítulo do passe e é um gajo que não gosta de defender. Porque Paulo Machado é trinco e neste jogo foi extremo esquerdo, defesa esquerdo e defesa direito. Porque João Moreira e Vaz Té só sabem tropeçar um no outro. Porque o Vieirinha está um texugo. Porque Manuel da Costa é um central burro. E há ainda um tal de Nuno André Coelho que tinha deixado uma péssima imagem nos sub-19 e voltou a confirmar os seus créditos de Paulo Madeira ao deixar o irlandês marcar o segundo golo.

Dir-me-ão que a culpa é dos jogadores. Concordo. Dir-me-ão que a culpa é do treinador. Concordo. Mas isso, por si só, não explica tudo. O problema dos sub-21 não é de ontem. É de há alguns anos a esta parte. É curioso verificar o seguinte: durante a década de noventa, as selecções jovens apresentaram resultados melhores do que os AA, pelo menos comparando-os. De 2000 até cá, tem-se verificado precisamente o contrário. Vejamos os exemplos mais recentes: nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 Portugal perdeu com o Iraque e Costa Rica por 4-2. Derrotas escandalosas. Sabem quem eram os jogadores? Digo-vos dez deles: Moreira, Bruno Alves, Jorge Ribeiro, Bosingwa, Meira, Cristiano Ronaldo, Raúl Meireles, Carlos Martins, Danny e Hugo Almeida. Com estes jogadores, Portugal não conseguiu melhor que o último lugar de um grupo onde figuravam as potências Iraque, Marrocos e Costa Rica. Obviamente, José Romão, seleccionador sub-21 da altura, foi despedido. Em 2005, mais uma competição oficial: desta vez um Europeu, disputado em casa. Portugal começou e acabou mal, perdendo. As grandes expectativas que se criaram à volta da selecção de Moutinho, Quaresma, Nani, Meireles, Custódio, entre outros, sairam novamente goradas. Agostinho Oliveira foi despedido. Mais recentemente, foi o festival Couceiro: derrotas com os sub-21 no Europeu da Holanda e com os sub-20 no Mundial, sendo que nesta última selecção figuravam estrelas como Fábio Coentrão, Paulo Renato e o sempre incompreendido Zequinha. Resultado, Couceiro foi posto fora.

Será que novo desaire da selecção jovem foi apenas devido a Caçador? Em boa parte foi, mas não na totalidade. E porquê? Porque ainda "não se varreu a porcaria de dentro da Federação", como alguem disse em 1993. Pergunto-me se estes sucessivos desaires, como o recente 7-0 infligido por Espanha aos sub-17, serão resolvidos. E se sim, como? Naturalizando os Liedsons que há para aí e que ajudam a matar o futebol jovem? Se é isso que querem...

1 comentário:

Anónimo disse...

Por acaso tinha feito referencia a maior parte disto no comentario ao artigo anterior. Concordo com tudo o que escreveste, inclusive com as virgulas, mas muito especialmente com as naturalizações. Escrevo sito após o descalabro dõ escrete portuguesinho contra a Dinamarca, num regresso ao passado das vitorias morais e do futebol sem balizas.
Quanto às camadas jovens andamos a formar jogadores e ninguem se lembra de formar homens. Ao primeiro elogio deixam de ser jogadores e passam a estrelas, com empresário, pai, mae e irmão atrelado (se for preciso mete-se a irma a cantar tambem). As selecções parecem passagens de modelos onde os putos vão para ganhar notoriedade e evitarem as filas das discotecas à noite. Há uma imagem que para mim personifica o espirito das camadas jovens nacionais: apos termos sido campeoes europeus em Viseu em sub 17 (se não me engano), fomos jogar o Mundial do mesmo escalão. Logo no primeiro jogo entra em campo uma equipa de miudos de cabelo descolorado e penteados artisticos. Os jogadores de sub 17 eram agora as estrelas de sub 17. Lembro-me de ter sido um desastre completo tendo inclusive saido um empate 5-5 com os Camaroes depois de termos chegado aos 4-0. Era a equipa do veloso, vieirinha, saleiro etc.
PS - quando vejo jogar os nanis mais adepto do futebol alemao me torno...simplicidade, pragmatismo e eficácia...o que falta aos artistas portugueses têm os alemaes a mais.