Há dez anos, mesmo sem saberem, ou pelo menos não tendo a noção do que faziam, os sócios do Benfica, na sua maioria (62%), disseram "não" à continuidade de João Vale e Azevedo, sócio 13 001, um homem que tinha tanto de brilhante advogado e conhecedor do sistema judicial e suas falhas como de trafulha. As suas palavras de luta contra o Sistema do Norte valeram-lhe a eleição 3 anos antes frente a Abílio Rodrigues e Luís Tadeu, este último o seu principal concorrente, professor do Instituto Superior Técnico, um homem sério e competente que já nos tempos da presidência de João Santos alertava para que as contas dos clubes em Portugal, Benfica incluído, iam dar um "estoiro" enorme. Não ganhou Tadeu, ele que reunia uma boa falange de apoiantes, talvez por ser demasiado ingénuo, prometeu aquilo que provavelmente cumpriria (a vinda de Pizzi) quando todos sabemos que para ganhar eleições é preciso prometer o impossível. Vale e Azevedo fê-lo e ganhou.
Três anos bastaram para Vale e Azevedo quase destruir um clube: negócios e negociatas, offshores, Ovchinnikov, Euroárea, casos e mais casos num mar de trafulhice sem fim. Rodeou-se de gente séria e competente como Ribeiro e Castro, mas os bons foram saindo e ele foi ficando, para nosso mal. Três anos apenas para colocar um Benfica já de si frágil fruto de erros das quatro direcções anteriores, nomeadamente a de Manuel Damásio, o maior clube português tinha perdido toda a credibilidade junto da população e junto da banca.
Num Benfica moribundo era necessário aparecer alguém que, mais do que um estratega ou um grande gestor, fosse um... benfiquista. Sim, por incrível que pareça, era necessário aparecer alguém que apelasse ao sentimento, falasse junto dos adeptos, fosse um de nós. Porque os grandes gestores são, apesar de competentes, facilmente derrotados nas eleições não raras vezes por falta de inteligência dos votantes. Vilarinho era um benfiquista acima de qualquer suspeita apesar de ter estado nas direcções de João Santos e de... Manuel Damásio (!), talvez por não se saber bem o que fazia, mas as pessoas acreditavam nele (como também acreditavam em Vale e Azevedo), olhavam para ele e viam que, no meio de alguma inocência, era um de nós, um benfiquista, alguém que queria o bem do clube e não era um "Vale e Azevedo". Talvez tenha sido isso, não ser um "Vale e Azevedo", que fez com que ganhasse essas míticas eleições.
E não sendo eu um fã de Vilarinho, porquê elogia-lo? Porque num Benfica às portas da morte, foi o único que avançou, que teve coragem de aparecer e tentar algo, tentar salvar o clube, herdando dívidas monstruosas ao Fisco e Segurança Social e o caos total. Mesmo sabendo que partia atrás nas sondagens (porque os adeptos do Benfica são assim preferem sempre quem está no poder independentemente de ser bom ou mau, é assim mesmo, infelizmente), teve a coragem de ir em frente e salvar o clube mesmo contra a vontade de alguns benfiquistas. Não foram os notáveis nem Vieira, quem foi à guerra com Vale e Azevedo foi Vilarinho, o mérito é dele. E duvido que haja maior prova de benfiquismo que esta.
Naquele dia 27 de Outubro de 2000 as filas para votar eram intermináveis, estendendo-se desde o Estádio à Avenida Lusíada, passando pelo Colombo. No primeiro lugar dessa fila estava um tal de José Sócrates e por entre tantos milhares que se deslocaram à Luz penso que até estavam três jogadores do rival da Segunda Circular, naquelas que foram as eleições mais importantes da História do Sport Lisboa e Benfica. No final dessa noite, Vilarinho era o novo presidente do Benfica, com 62% dos votos, contra 38% de Vale. Era a força da mudança.
Não se pense, no entanto, que foi o benfiquismo de Vilarinho que lhe valeu a vitória. Não foi. Foram as promessas, as mesmas que de três em três anos (e agora a partir de quatro em quatro) toldam o juízo aos sócios menos inteligentes. Manuel Vilarinho ganhou graças a duas personalidades: Eusébio, o Pantera Negra, pelo apoio que deu ao candidato da lista B e Mário Jardel, o goleador que estava na Turquia ao serviço do Galatasaray e que sonhava regressar ao Benfica, o clube onde sempre quis jogar como tantas vezes afirmou. Sem o apoio do maior símbolo do futebol benfiquista e português e sem a promessa de trazer o maior goleador dos últimos anos, não teria ganho as eleições, mas felizmente ganhou-as.
O mandato não foi, no entanto, um mar de rosas, longe disso. O novo Estádio da Luz, tantas vezes reclamado por Vieira, é de sua autoria, mas nem um título para amostra no futebol profissional, absolutamente nada. Não que essa fosse a prioridade, o objectivo fundamental era salvar o SLB, mas um benfiquista não pode ficar satisfeito por estar 3 anos (a juntar a outros 3 de Vale) sem ganhar absolutamente nada. Contrataram-se bons jogadores mas títulos nem vê-los e a ajudar a este descalabro desportivo apareceu aquela mancha que é o sexto lugar. E quando vemos que foi no seu mandato que Mourinho bateu com a porta, pior ficam as coisas pois todos sabemos que Vilarinho teve-o na mão e por teimosia própria quis vê-lo bem longe para trazer Toni.
Dez anos depois o Benfica salvou-se daquela tragédia. Mas não se pense que o cenário dos dias de hoje é positivo. Bem podem dizer que era só vender tudo que as dívidas ficavam pagas, mas esquecem-se que vendendo tudo... acabava o Benfica, não sobrava nada. É preciso visão para o futuro, visão essa que nem o próprio Vilarinho nem os que o rodeavam e que tomaram muitas decisões por ele tinham. E esse é o grande desafio desta nova década no Sport Lisboa e Benfica: ter visão a longo prazo para encontrar o rumo certo. Em dez anos muita coisa mudou. Quanto poderá mudar nestes próximos dez?
Três anos bastaram para Vale e Azevedo quase destruir um clube: negócios e negociatas, offshores, Ovchinnikov, Euroárea, casos e mais casos num mar de trafulhice sem fim. Rodeou-se de gente séria e competente como Ribeiro e Castro, mas os bons foram saindo e ele foi ficando, para nosso mal. Três anos apenas para colocar um Benfica já de si frágil fruto de erros das quatro direcções anteriores, nomeadamente a de Manuel Damásio, o maior clube português tinha perdido toda a credibilidade junto da população e junto da banca.
Num Benfica moribundo era necessário aparecer alguém que, mais do que um estratega ou um grande gestor, fosse um... benfiquista. Sim, por incrível que pareça, era necessário aparecer alguém que apelasse ao sentimento, falasse junto dos adeptos, fosse um de nós. Porque os grandes gestores são, apesar de competentes, facilmente derrotados nas eleições não raras vezes por falta de inteligência dos votantes. Vilarinho era um benfiquista acima de qualquer suspeita apesar de ter estado nas direcções de João Santos e de... Manuel Damásio (!), talvez por não se saber bem o que fazia, mas as pessoas acreditavam nele (como também acreditavam em Vale e Azevedo), olhavam para ele e viam que, no meio de alguma inocência, era um de nós, um benfiquista, alguém que queria o bem do clube e não era um "Vale e Azevedo". Talvez tenha sido isso, não ser um "Vale e Azevedo", que fez com que ganhasse essas míticas eleições.
E não sendo eu um fã de Vilarinho, porquê elogia-lo? Porque num Benfica às portas da morte, foi o único que avançou, que teve coragem de aparecer e tentar algo, tentar salvar o clube, herdando dívidas monstruosas ao Fisco e Segurança Social e o caos total. Mesmo sabendo que partia atrás nas sondagens (porque os adeptos do Benfica são assim preferem sempre quem está no poder independentemente de ser bom ou mau, é assim mesmo, infelizmente), teve a coragem de ir em frente e salvar o clube mesmo contra a vontade de alguns benfiquistas. Não foram os notáveis nem Vieira, quem foi à guerra com Vale e Azevedo foi Vilarinho, o mérito é dele. E duvido que haja maior prova de benfiquismo que esta.
Naquele dia 27 de Outubro de 2000 as filas para votar eram intermináveis, estendendo-se desde o Estádio à Avenida Lusíada, passando pelo Colombo. No primeiro lugar dessa fila estava um tal de José Sócrates e por entre tantos milhares que se deslocaram à Luz penso que até estavam três jogadores do rival da Segunda Circular, naquelas que foram as eleições mais importantes da História do Sport Lisboa e Benfica. No final dessa noite, Vilarinho era o novo presidente do Benfica, com 62% dos votos, contra 38% de Vale. Era a força da mudança.
Não se pense, no entanto, que foi o benfiquismo de Vilarinho que lhe valeu a vitória. Não foi. Foram as promessas, as mesmas que de três em três anos (e agora a partir de quatro em quatro) toldam o juízo aos sócios menos inteligentes. Manuel Vilarinho ganhou graças a duas personalidades: Eusébio, o Pantera Negra, pelo apoio que deu ao candidato da lista B e Mário Jardel, o goleador que estava na Turquia ao serviço do Galatasaray e que sonhava regressar ao Benfica, o clube onde sempre quis jogar como tantas vezes afirmou. Sem o apoio do maior símbolo do futebol benfiquista e português e sem a promessa de trazer o maior goleador dos últimos anos, não teria ganho as eleições, mas felizmente ganhou-as.
O mandato não foi, no entanto, um mar de rosas, longe disso. O novo Estádio da Luz, tantas vezes reclamado por Vieira, é de sua autoria, mas nem um título para amostra no futebol profissional, absolutamente nada. Não que essa fosse a prioridade, o objectivo fundamental era salvar o SLB, mas um benfiquista não pode ficar satisfeito por estar 3 anos (a juntar a outros 3 de Vale) sem ganhar absolutamente nada. Contrataram-se bons jogadores mas títulos nem vê-los e a ajudar a este descalabro desportivo apareceu aquela mancha que é o sexto lugar. E quando vemos que foi no seu mandato que Mourinho bateu com a porta, pior ficam as coisas pois todos sabemos que Vilarinho teve-o na mão e por teimosia própria quis vê-lo bem longe para trazer Toni.
Dez anos depois o Benfica salvou-se daquela tragédia. Mas não se pense que o cenário dos dias de hoje é positivo. Bem podem dizer que era só vender tudo que as dívidas ficavam pagas, mas esquecem-se que vendendo tudo... acabava o Benfica, não sobrava nada. É preciso visão para o futuro, visão essa que nem o próprio Vilarinho nem os que o rodeavam e que tomaram muitas decisões por ele tinham. E esse é o grande desafio desta nova década no Sport Lisboa e Benfica: ter visão a longo prazo para encontrar o rumo certo. Em dez anos muita coisa mudou. Quanto poderá mudar nestes próximos dez?
15 comentários:
Duas correccoes:
- nao sei quem e Abilio Abrantes
- tendo em conta os factos na altura e da forma como o caso Mourinho se passou, julgo nao se poder criticar Vilarinho por nao ter cedido a chantagem de um treinador em inicio de carreira; acho mesmo, tendo em conta a bandalheira directiva de que se vinha, a direccao nao poderia ceder a chantagens desse tipo numa altura em que se queria passar a mensagem de que as redeas estavam mais uma vez seguras.
Um terceiro ponto, e que apesar de poder ter apagado alguns fogos, prejudicou muito e desgastou Vilarinho: Vitor Santos.
Boa posta e com uma boa caracterização que que é, genericamente, a gestão de expectativas e o sentimento benfiquista nesta coisa do relacionamento com os presidentes.
curiosa a referência a jogadopres do rival. Sei que o Dimas foi votar. Presumo que o Paulo Bento também tenha ido. O terceiro terá sido João Pinto ou Bruno Caires?
NT
Abílio Rodrigues e não Abrantes. Já está corrigido.
O terceiro foi JVP.
Concordo plenamente. Vilarinho foi o homem certo na altura certa. Levou no lombo com tudo o que o Vale e Azevedo preparou. No meio de tanta falcatrua, o nome do SLB estava comprometido, ninguém queria investir num clube que na altura estava moribundo, Vilarinho apelou ao benfiquismo da nacção e pô-lo no devido lugar. Como o melhor produto português, que é, a reacção foi demorada mas consistente. Claro que também cometeu alguns erros de casting, Mourinho claro e a falta de títulos.
Mas nunca devemos esquecer este homem humilde, pés no chão e que volta e meia aparecia nos jantares dos NN para conviver com a malta, que conseguiu pôr o Benfica onde merece. No lugar cimeiro deste país a sudoeste da Europa e o mais representativo além fronteiras.
Abraço.
Boas recordações no dia em que se salvou o SPORT LISBOA E BENFICA.
Digo que foi para mim um dos dias que melhor recordo e que vibrei como se tivesse ganho 4 ou 5 titulos. Ver Vale fora do Benfica foi acreditem como ganhar o Euromilhões para quem por exemplo foi atacado verbalmente por chumbar orçamentos e votar na famosa AG contra a Sad.
Estive 2 horas nas filas e logo percebi o resultado. O verdadeiro povo Benfiquista uniu-se e salvou o clube. No entanto JNF não creio que fosse o Jardel a ganhar as eleições e nem mesmo o nosso Eusebio. Foi o proprio Vale que quase acabou com o clube e os socios não eram cegos, se calhar 3 meses antes a dispensa do João Pinto teve muito mais influencia mas para mim o famoso Debate na RTP com os papeis a dizer "mentira" foi o elemento chave.
Quanto a Vilarinho foi um grande presidente mas diga-se foi muito mal acompanhado (o tal Bibi entre outros) e se calhar perdemos o Mourinho por esses tais pessoas que o acompanharam. Como JNF seja correcto a nova Catedral foi mesmo por obra de Vieira e Mário Dias. Vilarinho tinha muitas duvidas e queria o Estádio Municipal, lembra-se?
Para enaltecer Vilarinho, não é preciso rebaixar o nosso Presidente. Ambos ficam na hostória do nosso clube como grandes Presidentes.
P.S- Não sabia que o JVP tinha ido votar (sabia do Dimas e do actual selecionador). Talvez ajudou a uma grande vitoria do clube (a sua ultima depois de 8 anos) o que é de enaltecer. Mesmo tendo uma opinião totalmente diferente da maioria em sua relação fico satisfeito por tal atitude.
Vilarinho rima com vinho.
De boa cêpa, se faz favor!
O homem que salvou o Glorioso.
APENAS isso!
Do que eu detesto mesmo é de adventistas do sétimo dia, neste caso "do décimo ano". LOL
A história da passagem de JVA pelo Benfica ainda há-de ser contada um dia, sem manipulações nem outras pressões.
Que é um ENORME vigarista? É... mas eu normalmente estou sempre do lado contrário da barricada do sistema.
Se calhar o pior que fez foi "rasgar" o contrato com a Olivedesportos mas pelos vistos até havia razões para isso.
Ainda bem que ele saiu do Benfica mas fica sempre a duvida: Entre uma transferencia pequena (Ovchenilov) e uma grande (Nuno Gomes) porque raio é que ele roubou a pequena e por coincidência a unica cuja testemunha é o empresário favorito do Pinto da Costa, um dia saber-se-á TODA A VERDADE. Assim espero.
É uma história de contradições.
Se Vale e Azevedo não tivesse saído do Benfica, provavelmente Mourinho continuaria no Benfica e seriamos campeões nesse ano. No entanto, o clube iria facilmente chegar à bancarrota e demoraríamos décadas e décadas a recuperar, isto se não acabássemos.
Vilarinho trouxe êxitos financeiros do mais alto nível (que muitos infelizmente desvalorizam) no entanto, nunca se traduziram em conquistas desportivas. E o homem bem merecia. Mas a vida tem destas coisas.
Obrigado Vilarinho!
Mas quais adventistas do décimo ano? Vocês drogam-se antes de vir comentar? Se há aqui alguém que vem com expressões desses pregadores és tu, com "TODA A VERDADE" e outras baboseiras.
Gostei imenso do post e o senhor toca exactamente na ou nas feridas do Benfica. Fui, sou e serei sempre um contestatário da gestão do Sr. LFV mas pergunto: que alternativas credíveis existem para o Benfica? Quem terá essa tal visão de médio \longo prazo para o Benfica? Rui Costa? Moniz? Ribeiro e Castro? Fernando Seara? Só espero é qe não esteja nas cogitações do Socrates ser presidente do BEnfica...esse gajo é que não... .
Se o Sócrates se metesse nisso acho que teria o mesmo destino que o Vale e Azevedo.
Achei este post bastante lúcido e bem escrito.
Também não sou fã do Vieira (já fui mas dá demasiados tiros nos pés) mas infelizmente não aparece nenhuma alternativa credível.
O Moniz parece ser credível mas afastou-se. O Rui Costa não se pode candidatar por causa dos novos estatutos. E de resto não vejo mais ninguém. Quem sabe o Berardo?
Drogado deves andar tu para estares tão sensível. Não te tinha incluído nos adventistas do décimo ano pois sempre achei que nunca foste fiel ao JVA, esses que eram todos pró Vale e Azevedo e que agora cospem tudo o que lhes dizem para cuspir incluindo algumas baboseiras, claro.
O que mal sabes tu é que muitos adeptos pró-Vale (que não censuro ao contrário de outros) são agora dos que abanam a cabeça qual cãozinho amestrado a tudo o que o Vieira diz. Mas não convém lembrar isso, pois não?
Tens mesmo de pôr mais tabaco nessa coisa... Os pró-Vale são os Vieiristas? Isso é tão cientifico como dizer que os Nazis eram os novos Comunistas, tem tudo a ver!!!
Por acaso até quem correu com o JVA (BES) é o aliado numero 1 do Vieira por isso essa ciência é um bocado transviada. Mas, volto a referir, a piada nem era para ti que nunca foste (que eu saiba, Pró-Vale)
Só não terás uma surpresa porque são raros os que admitem ter votado em Vale. E numas eleições teve 50 e tal % na outra teve 38. Mas nunca ninguém votou nele, oh que ideia.
Daqui a 10 ou 15 anos, se a gestão de Vieira se vier a revelar danosa, verás que nunca ninguém votou nele.
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