"Para ser grande, sê inteiro: Nada teu exagera ou exclui" Fernando Pessoa
Escrevo este post, sobre o Sporting, pois a situação que atravessa é grave a nível financeiro, directivo, futebolístico e, sobretudo, ideológico.
O actual momento do Sporting já nem me dá alegria, apenas me entristece. Sinceramente. Eu olho para o Sporting e vejo-o morrer. Se fosse o Porto, a esta hora estaria no Marquês a festejar, mas é o Sporting, o rival com o qual vivi desde pequenino, que eu respeito e desprezo. Não se trata de simpatia pelo clube, claro que não, talvez eu padeça daquele sentimento tipicamente português que é sentir pena de alguém ou algo que percebemos que vai acabar ou morrer. Se calhar é isto.
Bettencourt demitiu-se. No curto espaço de um ano e meio conseguiu agudizar todos os problemas e vícios acumulados pelo clube de Alvalade ao longo dos últimos 30 anos. Ganhou as eleições com 90% dos votos, disse "Bento Forever", contratou dois dos piores treinadores de sempre do clube, acabou em 4º lugar, cometeu gaffes atrás de gaffes, bailou ao som das maracas, chamou "maçã podre" ao capitão que vendeu ao rival Porto, trouxe a armada ex-Porto, resgatou Costinha e Couceiro e, mais grave que tudo, distanciou-se, irremediavelmente, de Benfica e Porto.
Não há forma de negar: hoje, em Portugal, há dois grandes, o Benfica e o Porto. O Sporting, na era Bettencourt, agudizou a belenização crónica. Ninguém respeita o Sporting, ficou descolado de tudo em relação aos rivais e cada vez mais próximo de Braga e Guimarães. E porquê? Essencialmente porque o Sporting cuspiu na sua própria ideologia, não quis ser inteiro, preferiu ir a reboque do Porto, num processo iniciado por Roquette e finalizado por Bettencourt. Gente como Dias da Cunha foi denegrida em praça pública por criticar o Sistema. Os resultados estão há vista. O Sporting não foi inteiro, excluiu os seus valores fundamentais, vendeu-se.
Pejado de incompetentes, com a corda na garganta em termos financeiros, desportivamente na lama e com o prestígio nacional e internacional arrasado, o Sporting vive uma situação gravíssima, tão grave quanto a vivida pelo Benfica na viragem do milénio, apesar de esta ter diferentes causas. Mas é igualmente grave. O Benfica tinha uma força que o Sporting não tem, a da sua massa associativa. O que pode fazer com que o Sporting saia definitivamente do buraco? Não vejo nada.
O meu sonho é ver o Benfica a ganhar, com o Sporting, e não o Porto, como seu grande rival. O Sporting a ombrear com o Benfica, mas nós a ganhar, sempre. Cresci e vivi em Lisboa desde sempre, onde o Porto, enquanto clube, ainda não tem a dimensão que os portistas queriam que tivesse. Aqui, hoje, Lisboa é Benfica e Sporting. E poderá passar a ser só Benfica em breve.
Escrevo isto porque esta situação do Sporting me faz lembrar o momento vivido pelo Benfica no final do milénio. Apesar das diferenças, as semelhanças em termos de consequências são bem reais.
Ah, antes que cheguem os mais indignados a dizer que estou a defender o Sporting, deixo já o esclarecimento: o Benfica, nomeadamente a sua Direcção devem fazer o que deve ser feito. "Se não estão connosco, estão contra nós". O projecto Roquette tentou matar o Benfica e o Sporting nunca se colocou do nosso lado no processo Apito Dourado. Há que dar a machadada.