Numa altura em que as alternativas para Javi e Witsel não inspiravam grande confiança, eis que os próprios abandonam o clube. Façam um exercício simples: Indaguem sobre as razões para as alternativas aos dois ex-jogadores não receberem grande crédito pela maior parte dos adeptos e próprios responsáveis técnicos. Serão os jogadores que não têm qualidade? Ou será o modelo quase suicida de Jorge Jesus que não potencia da melhor maneira todos os jogadores que possam substituir Javi e Witsel por não terem características semelhantes? Matic muito dificilmente poderá oferecer as mesmas coisas que Javi. São jogadores diferentes. Javi tem um raio de ação superior ao do sérvio, mas isso só é problema num modelo de jogo como o que o Benfica apresenta. O sérvio pode não tomar as melhores decisões a nível posicional, quando a equipa não se encontra com a bola, mas é preciso ver que o modelo de jogo do Benfica oferece inúmeras situações de igualdade/superioridade numérica ao adversário, sobre o meio campo. Com o número de jogadores que o Benfica coloca à frente da linha da bola, é quase impossível não permitir que isso aconteça. A culpa não é de Javi, não é de Matic, nem de outro jogador qualquer que apareça a jogar na mesma posição. É de Jesus. Cabe ao próprio perceber isso e alterar o modelo de jogo para que o Benfica deixe de ser apanhado tantas vezes em situações delicadas. Alguém já tentou trocar Mateus, Candeias, Rondón, por Iniesta, Xavi e Messi e imaginar o resultado? Bem, é melhor não o fazer.
Dentro do clube, existem boas soluções para substituir os jogadores que saíram. A curto prazo, muito dificilmente oferecerão o rendimento individual que os dois ex-jogadores asseguravam (principalmente Witsel), mas talvez seja esta a hora de alguns jogadores mostrarem que podem ser opções num clube como o Benfica. Em relação a Jav, Matic, como já foi referido no primeiro parágrafo deste post, tem qualidade para ganhar o lugar no 11 benfiquista. O sérvio é bom tecnicamente, tem uma boa passada, oferece um leque interessante de argumentos a nível ofensivo (passe vertical à cabeça), mas ainda não toma as melhores decisões a nível posicional. Por vezes, cai no engodo da bola e sai da sua posição para o corredor lateral, acabando por desequilibrar (ainda mais) o corredor central. Existe, também, na equipa B, um jogador com características muito interessantes. Tem sido um caso de má gestão e má formação (mais um ) no Benfica. Fala-se de Cafu, melhor marcador da equipa de juniores do Benfica, na época de 2011/2012. Sim, o leitor leu bem, melhor marcador da antiga equipa de juniores. A explicação para isto é simples: Ao Benfica faltava um jogador para a frente do ataque, dado que as opções para ocuparem a posição tinham pouca qualidade, e Cafú, devido à sua capacidade física, diferenciava-se dos outros e oferecia golos, coisas que nos escalões de formação, infelizmente, ainda conta muito. Cafú, no entanto, é muito mais que um calmeirão qualquer com uma estatura elevada. Cafú é inteligente, ocupa muito bem o espaço, é bom tecnicamente, tem um raio de acção elevado, e tem o bónus de ser forte fisicamente, que lhe oferece um argumento com algum peso nos duelos individuais. Pelas características que detém, é o jogador mais parecido com Javi que o Benfica tem ligado aos quadros. No que diz respeito ao lugar que Witsel ocupava... Bem, o caso também é complexo. Quer dizer, é simples, mas para Jorge Jesus parece ser complexo. Miguel Rosa. Miguel Rosa é um jogador muito completo. É rápido, vertical, inteligente, boa capacidade técnica, relativamente imprevisível, reage muito bem à perda de bola... É, provavelmente, o jogador mais talhado para ocupar a posição de Witsel, por ser um jogador equilibrado. Com os sucessivos empréstimos a clubes do segundo escalão, Miguel Rosa desenvolveu em si alguma ânsia excessiva em chegar à frente no terreno, que me parece perfeitamente corrigível se for introduzido num contexto diferente. As coisas podiam ser feitas de forma diferente, no entanto, e juntar o útil ao agradável. Miguel Rosa e Aimar, com um terceiro elemento no meio campo, provavelmente Matic. Aimar não é um jogador acabado. Não é um jogador para jogar 30' num jogo. Aimar é o melhor jogador em Portugal. Aimar é genial. Mas é mais um jogador que não beneficia do modo como o Benfica joga. Aimar é um jogador forte em organização defensiva. Sabe os espaços que deve ocupar, interpreta perfeitamente o jogo, mas é impossível pedir a um jogador como Aimar para, em transição defensiva, conseguir recuperar e ficar de frente para o jogo. E, com isto, perde-se um meio campo mais equilibrado e, consequentemente, a impossibilidade de ver o Benfica com um controlo maior sobre o jogo.
Resumindo, tudo está dependente da alteração da forma de Jesus interpretar o jogo. A alteração do modelo de jogo oferecia um leque inimaginável de soluções para o colectivo. Desde a possibilidade de integrar alguns jogadores com qualidade, oferecendo-lhes um contexto mais apropriado à sua entrada na equipa e às suas características à garantia de um controlo maior sobre o jogo, que não acontece por desequilíbrio notório no meio campo. Infelizmente, tudo isto não passa de um cenário pouco provável.