O Benfica venceu o Nacional por 3-0. Não sei que jogo viram, mas o que eu vi, ou do que pude ver, fiquei preocupado com vários aspectos do jogo do Benfica. Houve muita falta de vontade e algum amadorismo até. Erros antigos, vícios velhos e pouca evolução. E com a saída de Javi, novos problemas apareceram. Se isto foi assim hoje, não quero pensar no que pode vir a ser no futuro. Urge evoluir. O Benfica venceu o Nacional por um resultado totalmente enganador. Se houvesse competência do adversário, e vai haver no futuro, porque nem todas as equipas são tão medíocres como o Nacional, vai haver muita choradeira para os lados da Luz.
Tacticamente, a equipa é uma nódoa. Parece que não se prepara, que não estuda os adversários, que aplica o mesmo modelo de jogo e as mesmas ideias padrão para cada jogo independentemente do adversário, sem qualquer preocupação pelos pontos débeis dos rivais. Se as coisas saem bem, à primeira, maravilha. Se tal não acontece, está o caldo entornado. A equipa perde o norte, Jesus disparata e começa a tirar médios para meter pontas-de-lança, lançam-se todos ao ataque e fé no Artur lá atrás. Surreal. Isto não é de mestre da táctica. O Benfica, actualmente, vive de individualidades. Vive da inspiração de Salvio, que tem sido enorme neste arranque de época. Vive dos golos de Cardozo, da entrega de Witsel e de raides de Rodrigo. O Benfica é pouco mais que isto. Vêem uma equipa neste Benfica? Eu vejo apenas 11 jogadores, não uma equipa. E no futebol, como é sabido, o todo é mais que a soma das partes.
Há vários aspectos específicos do jogo que não consigo entender. Um deles é a saída para o ataque organizado. Nos primeiros anos de Jesus, quando Aimar era titular absoluto, o argentino baixava no terreno e, apoiado pelos colegas que se encontravam perto, lançava o Benfica no ataque. Hoje, sem Aimar, não há ninguém que desça para assumir a batuta e o espaço entre os jogadores de trás (Luisão, Witsel e Garay) e os da frente é colossal. Como pode o Benfica tentar sair a jogar de forma organizada com a equipa partida em dois bolos, com a bola nos jogadores mais atrasados, e com os jogadores mais adiantados longíssimo dos três de trás? Hoje voltei a assistir a algo que pensava já estar completamente ultrapassado desde os tempos de Camacho: Luisão, o maestro, o organizador de jogo quando Pablo Aimar (ou outro qualquer "fantasista") não está em campo. Voltámos aos piores tempos da época 2007/2008, onde o chuveirinho de Luisão foi o método mais usado para sair a jogar.
Outro dos enorme erros deste Benfica é o posicionamento de Witsel na saída com bola. Não pode estar constantemente a fazer o que Javi fazia se for a aposta de Jesus para "6" da equipa. Quando Witsel baixa no terreno para o meio dos centrais, o Benfica perde o seu melhor e mais importante elo de ligação entre defesa e ataque. Eu não estou à espera de ver Carlos Martins a pegar na bola e levá-la para a frente como o belga faz. O mal do Benfica é não ter dois "Witseis". Mas se eu pudesse escolher apenas um, escolheria o Witsel "número 8", não o "número 6". É aí que rende mais e onde pode dar mais e melhores soluções do ponto de vista ofensivo e defensivo, sobretudo no que aos equilíbrios diz respeito. Na ausência de Javi, Airton ou Amorim dariam tanto jeito. É que se faltar Matic, o Benfica ficará de braços e pernas atados, Jesus sabe-o e disse-o no flash interview da SportTV: "se tivermos de lançar jogadores como o André Almeida ou o André Gomes, vamos pagar a factura". Pois vamos, e não vai ser barata.
Mas, paradoxalmente, o Matic no qual Jesus confia é o mesmo no qual Jesus não confia. Confusos? Ouvir Jesus, um nabo táctico, dizer que Matic ainda não tem conhecimentos tácticos que lhe permitam fazer a posição de Javi, é de génio (disse-o antes do jogo). Portanto, recapitulando, Matic é jogador do Benfica desde Janeiro de 2011, treina com Jesus desde Junho de 2011 e, em 14 meses com Jesus, não aprendeu o suficiente para jogar a trinco. Já Melgarejo, em apenas um mês, aprendeu o suficiente para ser titular a defesa esquerdo. Das três, uma: ou Matic é burro, ou Melgarejo é um génio ou Jesus quer tomar-nos por parvos. Vou pela terceira.
Defensivamente, o Benfica é um caos. O número de vezes em que os adversários aparecem em superioridade numérica é preocupante. Foram várias as vezes em que o Nacional galgou 30, 40, 50, 60 metros no terreno, à vontade, em contra-ataque, sem oposição e muitas vezes em igualdade numérica ou até em superioridade. A quantidade absurda de vezes que chegaram à entrada da área prontos para rematar à baliza de Artur é inadmissível. A pressão exagerada com 3 homens a caírem sobre o portador da bola deixando crateras maiores que as da Lua para o Nacional atacar só resultou em lances de golo para os insulares. O espaço concedido nas laterais fruto das acções ofensivas do paraguaio e do uruguaio é mais que muito. Nunca, em toda a minha vida, vi o Benfica defender tão mal.
O Benfica está a viver das individualidades. Vive de fogachos ofensivos e da inspiração momentânea dos seus craques. E é assim que vai ganhar os jogos do campeonato, tal como o Porto. Com dois treinador tacticamente presos no Paleolítico inferior, Benfica ou Porto, apenas um deles, será campeão e tudo graças às individualidades. Elas vão resolver os jogos. Hoje foram Cardozo e, sobretudo, Salvio pelo Benfica. O Porto, quando se sentir apertado, vai recorrer a Hulk como se não houvesse amanhã. Quando o "gás" destes atletas esgotar... caput! Adeus título. Se é verdade que a liga portuguesa em termos de competitividade bateu no fundo, não é menos verdade que os treinadores para 2012/2013 são dos piores que tenho visto em largos, larguíssimos anos.
Eu já vi este filme, conheço de cor o guião e as personagens e até acho que já sei o fim.